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Horror com política no futuro sombrio de Extermínio 2

A crise da autoridade na Inglaterra de Blair, representada pelo pai que caça os filhos para matar, está no centro do filme que chega às salas de cinema do País

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Por Redação
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Danny Boyle surgiu como uma das grandes promessas do cinema inglês nos anos 90, com dois filmes fortes - Cova Rasa e Trainspottting - Sem Limites. Ele meio que perdeu o rumo em A Praia, mas Extermínio virou cult ao antecipar um futuro apocalíptico, no qual um vírus ameaça destruir a humanidade. O sucesso estimulou Boyle a fazer a seqüência, que ele não dirige. Extermínio 2, em exibição há duas semanas, foi apenas produzido por Boyle, que delegou a direção ao espanhol Juan Carlos Fresnadillo, de outro filme cult, Intacto, lançado em DVD no País. Se o futuro de Extermínio já era sombrio, o de Extermínio 2 é mais sombrio ainda. Na abertura, um rápido histórico lembra os eventos do filme anterior - em 28 dias, a contaminação da população por um vírus que transmite uma raiva mortal cria a sociedade de zumbis que se entredevoram numa Inglaterra em quarentena. O fato de ser uma ilha favorece o isolamento e Extermínio termina com a ameaça momentaneamente contida, mas não erradicada, o que abria, há cinco anos - o filme é de 2002 -, a possibilidade de uma continuação da saga. Fresnadillo mostra agora, 28 semanas depois, Robert Carlyle (substituindo Cillian Murphy como nome mais conhecido do elenco) que vive com a mulher e umas poucas pessoas numa casa isolada. O local é invadido pelos zumbis raivosos e Carlyle, acovardado, foge para salvar a pele, deixando a mulher para trás. Corte para Londres, onde uma força americana de ocupação assume o controle da lei e da ordem. Os dois filhos de Carlyle juntam-se ao pai, que trabalha numa área segura da capital inglesa (uma ilha dentro da ilha). Mas a situação vai escapar ao controle. Isso coincide com a descoberta de que a mulher não morreu, desmontando a versão heróica que Carlyle elaborou para os filhos. Embora mordida pelos zumbis, uma anomalia genética tornou-a imune à doença. Como a anomalia se transmite aos filhos, as duas crianças - um menino e a irmã mais velha - podem virar as duas únicas esperanças da Terra. Uma médica e um soldado da força de ocupação farão de tudo para salvá-los, mas o pai, que foi infectado, persegue os próprios filhos para matar. Fresnadillo criou uma metáfora não muito difícil de elucidar. A aliança do premier Tony Blair com o presidente George W. Bush na questão do Iraque o leva a esse personagem de pai enlouquecido, que representa não apenas a perda da razão como o momento em que a autoridade se torna prejudicial aos cidadãos. Os americanos, como força invasora, não são poupados. Eles podem entrar na Inglaterra com a melhor das intenções - salvar a humanidade e a democracia, combatendo a uniformização das mentes, como vivem dizendo -, mas Fresnadillo não tem ilusões. Os americanos terminam fazendo o que sabem. Disparam, indistintamente, tanto faz que suas vítimas sejam infectadas ou não. Despejam toneladas de bombas que, como o napalm nas selvas do Vietnã, torram as pessoas num mar de fogo. Extermínio 2 termina de novo em aberto, mas desta vez a ameaça ultrapassou os limites da ilha e atinge outros países e cidades. Fresnadillo e Boyle deixaram a porta aberta para o 3. Até chegar a esse desfecho, o diretor cria cenas gráficas de violência (além de detalhes que revoltam o estômago). Extermínio 2 não é agradável de se ver, mas é impactante. A idéia dos zumbis, como no cinema de George Romero (The Night of the Living Dead, Terra dos Mortos), torna-se indesligável da noção de um momento de crise da humanidade.

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