Hair e os ecos de um grito que não quer calar

Clássico sobre os tumultuados anos 60 ganha remontagem e revela uma assustadora atualidade

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Por Ubiratan Brasil
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Jovens mortos em guerras estúpidas, preconceito contra homossexuais, crise geracional entre pais e filhos - o mundo parece não ter dado um passo sequer desde que o musical Hair estreou em 1967 no circuito alternativo dos Estados Unidos, onde, depois de conquistar a Broadway, logo foi alçado à condição de clássico por tratar daqueles assuntos sob um olhar inovador e original. Mas, se a realidade manteve intactos certos conflitos, Hair renovou o frescor da juventude em lutar por causas justas. É o que se percebe na nova montagem brasileira que estreia nesta setxa-feira, 5, no Teatro Oi Casa Grande, no Rio.Assinada por uma dupla tarimbada (Claudio Botelho e Charles Möeller), a produção é esmerada - dos figurinos à atlética coreografia, da versão das letras à interpretação, Hair resgata um sentimento duradouro. "Ainda vivemos em guerra e os conflitos são muito parecidos e tão assustadores e sem sentido como o do Vietnã. Da mesma forma que ainda somos cheios de tabus e vivemos na intolerância. O grito de Hair continua ecoando", justifica Charles Möeller.O musical é ambientado em 1968 e acompanha os passos de John Berger (Igor Rickli), hippie que comanda uma tribo de moças e rapazes de Nova York. O grupo logo é reforçado por Claude (Hugo Bonemer), rapaz que vive um dilema: oprimido pelos pais, que o querem alistado no Exército para a Guerra do Vietnã, ele também é assediado pelos hippies, que o incentivam a se soltar das amarras sociais.Botelho e Möeller assistiram ao revival de Hair em 2009 em Nova York e, emocionados, decidiram comandar uma versão brasileira. "Na remontagem, a diretora Diane Paulus trouxe personagens mais modernizados, sem o ranço experimentalista que marcou o original", conta Botelho que, depois disputar com a Time For Fun (que monta musicais no Teatro Abril), conseguiu os direitos, auxiliado pela Aventura Entretenimento, empresa que vem patrocinando os recentes espetáculos da dupla."São muitas as referências da peça, especialmente paralelos com Shakespeare e o cristianismo", observa Möeller. "É uma espécie de Novo Testamento, pois a peça começa com o Anjo da Anunciação cantando Aquarius, que prega uma nova era e a vinda do novo Cristo. Em seguida, entra em cena John Berger, que tem as mesmas iniciais de João Batista e que fundamenta uma liturgia inédita - por meio do LSD, ele alcança uma nova fronteira, uma referência ao que Paul McCartney disse nos anos 1960, sobre encontrar Deus por meio da droga."

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