A data oficial da estréia da TV no Brasil é 18 de setembro, de 1950, mas na verdade a primeira transmissão aconteceu dois meses antes, em 4 de julho, com um quadro musical do frei cantor José Mojica, ex-galã de Hollywood. No dia seguinte, saia publicado no Diário de São Paulo a matéria: "Êxito das experiências feitas com a televisão", que dava todos os detalhes do "principal acontecimento artístico-religioso do Ano Santo no Brasil". Utilizando a câmera PRF-3, diretamente do Museu de Arte de São Paulo, na Av. Paulista, às 17 horas, o frei cantor José Mojica entrava em cena cantando depois da transmissão de uma tosca imagem de um indiozinho tupi, desenhado a bico de pena e as legendas: PRF-3 Tupi. No auditório do Museu de Arte de São Paulo, o frade se apresentou para uma seleta platéia. O grande público foi convidado a assistir a tudo dos dois monitores de televisão estrategicamente instalados na sede dos Diários Associados, na Rua Sete de Abril, no hall do Edifício Guilherme Guinle. Assim nascia a TV Tupi. Frei Mojica descobriu que cantaria na TV quando chegou a São Paulo, ele pensava que faria apenas um programa de rádio. Façanha que repetiu logo em seguida, na noite de 7 de julho, quando foram espalhados monitores de TV também nos cruzamentos das ruas 7 de Abril e Bráulio Gomes. O frei José Mojica cantou acompanhado por outro franciscano, o frei pianista peruano Pacifico Chirino e pela orquestra Tupi. "Todos os aplausos e todos os prazeres não dão a paz, nem valem o que vale uma hora de serviço ao Cristo", disse o frei Mojica, em seu discurso na estréia da TV. "Em verdade, nunca pensei quando entrei na vida religiosa, que algum dia voltaria a encontrar-me em atividades radiofônicas, como agora me encontro", prosseguiu. O responsável pela "loucura" de montar uma emissora de televisão no Brasil foi o empresário Assis Chateaubriand, dono dos Diários Associados, da revista O Cruzeiro, da agência Meridional, da Rádio Tupi, que tornou-se, em 1949, a primeira estação de TV do País. Este paraibano, de Umbuzeiro, morreria em 1968, deixando um legado grandioso, formado por 34 jornais, 25 emissoras de rádio, 2 agências de notícias, 18 revistas, 8 mil funcionários e 18 televisões. De Ator de Cinema a Frade Nasceu em San Gabriel Jalisco (México), em 1896, Crescenciano Abel Exaltacion de la Cruz Jose de Jesus Mojica Montenegro Chavarria Y Romero, que ficaria conhecido em todo o mundo como frei José de Guadalupe Mojica. Sua estréia como tenor foi em O Barbeiro de Sevilha, no México, e sua voz maravilhosa o levou até Nova York, onde acabou por conhecer Caruso, de quem ganhou uma carta de apresentação para a diretora da Ópera de Chicago, da qual tornou-se o primeiro tenor. Ficou mundialmente conhecido cantando Jurame e Maria la O. Seu primeiro filme foi Loucuras de um Beijo (1929), que levou as mulheres a loucura e o transformou no ídolo latino-americano com o maior cachê de Hollywood. Fez mais outros 11 filmes, mas nunca foi visto com nenhuma outra mulher, a não ser sua mãe. Ele morava em uma mansão cor-de-rosa, com piscina e quadra de tênis. Em 1934, sua mãe adoeceu e ele decidiu cuidar dela, em sua mansão em San Miguel Allende, no México. E teria sido lá, em frente a uma imagem de São Francisco, que Mojica rezou pela cura de sua mãe, fazendo a promessa que, se a graça fosse alcançada, ele entraria para um convento franciscano. Em seu livro, ele relata que sua mãe ficou boa e foi esse realmente o motivo de ter largado sua vida de galã de cinema. Em 1942, no auge de sua carreira de tenor e ator, Mojica decidiu seguir sua vocação, sagrando-se um frade franciscano, em Arequipa, no Peru, dois anos depois. Com o tempo, seus superiores o incentivaram a voltar a cantar para conseguir donativos para as campanhas da igreja. "Eu, que já tive em abundância tudo o que a juventude persegue, vim para dizer que todo o ouro do mundo, a fama, o poder, o aplauso e o prazer não são equivalentes a uma hora de serviço de Deus", costumava dizer Mojica. Com o dinheiro de uma de suas turnês como frade cantor, Mojica conseguiu arrecadar US$ 315 mil, dinheiro com o qual foi construído o Colégio Santa Maria, em Arequipa (Peru). Mais tarde, ele voltaria apenas uma vez às telas, interpretando ele mesmo, no filme baseado em sua biografia I, A Sinner (Eu, Pescador), que vendeu 3 milhões de cópias na Espanha e que posteriormente foi traduzida para o inglês. Ele teria escrito o livro para acabar com os boatos sobre sua vida particular e sobre os motivos pelos quais teria se tornado frade. Morreu aos 78 anos, vítima de uma parada cardíaca, no dia 20 de setembro de 1974, em Lima (Peru).