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Free Zone ganha versão paulistana

Evento multimídia nascido no Rio, aberto ao experimentalismo nos diversos campos da arte, chega a São Paulo nesta terça-feira

Por Agencia Estado
Atualização:

Habitual laboratório de experiências modernas da cidade, o Galpão Fábrica da Barra Funda abriga nesta terça-feira a primeira versão paulistana de um evento multimídia que começou a ser gestado em 1999, no Rio: o Free Zone. A Souza Cruz, que patrocina o evento (a marca Free é o seu produto mais vendido) espera cerca de 1,5 mil pessoas no local. A partir das 21 horas, apresentam-se no espaço pouco convencional sob a centenária chaminé da antiga fábrica Matarazzo o veterano grupo de samba-rock Trio Mocotó; os artistas plásticos Márcia X, Franklin Cassaro e Rodrigo Cabelo; o produtor e mestre-de-cerimônias DJ Dolores; o diretor de teatro Felipe Hirsch e o decano grupo punk curitibano Beijo aa Força; o duo eletrônico alagoano Sonic Junior; o poeta e performer carioca Michel Melamed e a banda multimídia Chelpa Ferro (que junta os artistas Sérgio Mekler, Barrão, Luiz Zerbini e Chico Neves). De Beuys a Jorge Ben, do Parque Lage à Pinacoteca do Estado, tudo passa pela peneira do Free Zone. A artista plástica Márcia X, por exemplo, deve apresentar a performance Pancake, um conceito no mínimo polêmico. Em pé, no meio do público, ela derrama sobre a cabeça 20 quilos de Leite Moça. Ao final, cobre tudo com outra descarga de confeitos coloridos. "Seriam todos os participantes dessa série de eventos - já que toda dança, toda música, toda imagem, todo o tempo, o tempo todo, pode ser apenas um espaço entre duas palavras - legítimos representantes da poesia propriamente dita?", pergunta o poeta Chacal, curador-geral do evento. "Respostas: só indo, só vendo, ouvindo e vivendo", conclui. Chacal iniciou essa reunião multidisciplinar de artistas em agosto de 1999, quando criou (com os artistas plásticos José Bechara e Domenico Lancellotti) um evento no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro chamado Almanaque 99. "O acontecimento começava na Cinemateca do MAM, com a apresentação de um curta-metragem ou vídeo", lembra. "Em seguida, uma performance ou um recital ainda na Cinemateca e, depois, na lendária cantina do MAM, num salão anexo, ocorriam outras performances de artistas plásticos e dois shows musicais", relembra o poeta. Este ano, o Free Zone já percorreu três capitais. Esteve no Rio de Janeiro em 24 de junho. Depois, instalou-se em Curitiba no dia 12 de julho. No dia 19 de julho, estava em Porto Alegre. Amanhã é o batismo paulistano. Os elencos são distintos para cada capital. Estiveram no Rio, entre outros, o bardo de Copacabana, Fausto Fawcett, e o grupo mundo livre S/A. Em Curitiba, Arnaldo Antunes e o DJ Calbuque foram atrações. Porto Alegre recebeu estrelas locais, como Wander Wildner e o tecnopop Flu, mais o paulistaníssimo DJ Patife. O elenco no Galpão Fábrica é dos mais ecléticos. O diretor Felipe Hirsch, que ganhou notoriedade nacional com a montagem de A Vida É Cheia de Som e Fúria (adaptação de Alta Fidelidade, de Nick Hornby), comparece à mostra acompanhado do veterano grupo punk curitibano Beijo aa Força (que, em dado momento, também foi a banda-projeto Maxixe Machine). DJ Dolores é o codinome do pernambucano Helder Aragão, produtor de festas no Recife e autor de trilhas para cinema, como "O Rap do Pequeno Príncipe contra as Almas Sebosas, o premiado documentário de Marcelo Luna e Paulo Caldas. Os artistas plásticos são todos enfants terribles do mundo visual da atualidade. Franklin Cassaro já participou de mostras internacionais importantes, como a Arco 2001 e a 7.ª Bienal de Havana. Márcia X expôs tanto no MAM do Rio como no Paço Imperial e no Espaço Cultural Sérgio Porto. Fez furor com seus objetos fálicos em Fábrica Fallus, em 1994. O grupo Chelpa Ferro, entroncamento de experiências visuais e sonoras, é um dos mais anticomerciais experimentos da atualidade. Lançou seu primeiro disco em 1997 pelo selo Rock It! mas até agora pouca gente tomou conta de sua existência. "O que se faz necessário, todavia, é a arte dispor-se a rever, sem preconceitos, seu modo de inserção social", disserta o crítico de arte Luiz Camillo Osório em texto sobre a banda-projeto de Barrão e Luiz Zerbini. "É nessa direção, com essa motivação revisionista, que vejo as experimentações sonoras, imagéticas e tecnológicas do Chelpa", conclui. Na época de seu lançamento, o CD de estréia do Chelpa Ferro foi batizado pelos seus criadores como "atentado sonoro". Diziam que, pelo fato de não serem músicos, estarem abertos a novos tipos de instrumentos musicais. "Para nós, guitarra, bola de pingue-pongue e até um computador são passíveis de produzir som", disse Sergio Mekler. O poeta Chacal, artífice de toda essa agitação, foi um dos principais nomes da poesia surgida nos anos 80 (a chamada "poesia-mimeógrafo"), quando criou o grupo Nuvem Cigana. Free Zone - Amanhã (07), 21 h. R$ 20 (estudantes pagam meia). Ingressos nos restaurantes Piola. Galpão Fábrica (Av. Francisco Matarazzo, 530). Patrocínio Souza Cruz.

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