Fotógrafa busca os sentidos da amizade em tempos de Facebook

Projeto faz parte de exposição que acontece no Rio e explora os impactos do mundo digital em nossas vidas

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Por Roberta Pennafort
Atualização:

Tanja Hollander tinha 626 amigos no Facebook em dezembro de 2010. Ainda assim, passou o Réveillon em casa sozinha. Para se distrair, a fotógrafa norte-americana pôs-se a conversar no chat com um amigo querido que estava filmando em Jacarta, na Indonésia, enquanto escrevia uma carta à mão para um amigo militar que estava no Afeganistão a serviço.

Refletindo sobre a situação, paradoxo de muitos de nós no século 21, ela começou a questionar o valor das amizades, o que aquelas pessoas significavam em sua vida, que tipo de relação queria ter com elas. Dessas indagações nasceu o projeto Você É Realmente meu Amigo?, pergunta que resolveu fazer a seus 626 amigos cara a cara.

 

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Com míseros US$ 50 no banco – o país estava em crise financeira; ela, mais ainda –, Tanja, que mora no Maine, teve que sair em busca de patrocínio para correr os Estados Unidos e o mundo a fotografá-los. Antes, disparou e-mails explicando suas intenções. A primeira pessoa a responder foi a também fotógrafa Samantha Appleton, uma ex-namorada de um amigo seu havia quinze anos com a qual mantivera contato.

Samantha morava em Washington (trabalhava para o presidente Obama) e, apesar de não ter intimidade com Tanja, a recebeu em sua casa, apresentou-a a seus amigos, Até um tour pela Casa Branca fez. “Foi uma experiência incrível, ela se tornou uma grande apoiadora do projeto”, conta Tanja, que estará no Rio esta semana para a mostra Virei Viral, no Centro Cultural Banco do Brasil, da qual sua exposição fará parte.

Ela largou o emprego chato de assistente num escritório de advocacia e, durante dois anos e meio, visitou amigos à vera, amigos de amigos, colegas de colégio e de faculdade, contatos profissionais, conhecidos em geral. No site do projeto, www.facebookportraitproject.com, a fotógrafa explica como viabilizou as viagens: uma delas era se oferecer para dar palestras sobre o trabalho nas cidades em que precisa estar. Sua câmera analógica Hasselblad já retratou 350 pessoas, em 43 dos 50 estados norte-americanos, e se prepara para começar a excursão para fora – são 11 países à vista (na Europa, Emirados Árabes, Israel, Nova Zelândia e Indonésia). Quer terminar tudo até 2017, quando vai exibir o resultado no Museu de Arte Contemporânea de Massachusetts, um dos maiores dos EUA.

“O que aprendi é que há tipos diferentes de amizade e que, quando a gente envelhece, isso muda mesmo. Tem os amigos que você vê o tempo todo, aqueles para quem você liga de madrugada, os que leva ao cinema, os dos shows, os das exposições. Mas é difícil categorizar, e uma amizade não é mais importante do que a outra. Quando se é mais jovem, a melhor amiga tem tudo numa pessoa só”, explica Tanja, por telefone.

Uma boa parte do grupo é de artistas e tem sua faixa etária (41 anos) – são escritores, fotógrafos, artistas plásticos. A princípio, as pessoas não entendiam do que tratava o projeto. Então Tanja decidiu escrever um blog a respeito e postar as fotos que fazia. Ela se hospeda com os amigos e, assim, passa a conhecê-los melhor.

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Com os contatos que foi fazendo, hoje tem mais de 1.200 amigos no Facebook. “Ficamos mais próximos, conheci as famílias, as crianças. Aprendi muito, conheci melhor o meu país. Não sabia que seria algo tão absorvente, que o projeto iria se tornar a minha vida”, conta.

Com participação de jornalistas, artistas e designers, a mostra Virei Viral terá palestras e shows até sábado. A exposição fica até janeiro. O mote é o impacto do digital na vida moderna, de e-mails, redes sociais e conexão 24 horas por dia.

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