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Fachada do Masp recebe primeira intervenção artística de sua história

Cartão postal da cidade, o edifício já foi cobiçado por muitos artistas. Mas só agora, depois de 42 anos, as quatro faces do prédio de Lina Bo Bardi serão ocupadas por uma obra de arte – ‘Tramazul’, de Regina Silveira

Por Marina Vaz - O Estado de S.Paulo
Atualização:

Se, para a consagrada artista plástica gaúcha, intervir em grandes marcos da arquitetura mundial é algo recorrente (ela já levou sua obra a locais como o Palácio de Cristal do Reina Sofía, em Madri), a intervenção no Masp é um feito inédito. Desde sua inauguração, em 1968, a fachada do museu nunca foi usada como uma ‘tela em branco’ por nenhum artista, apesar das frequentes solicitações recebidas pelos curadores.

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A seguir, Regina fala sobre a arte que vai mudar a cara, pelo menos até janeiro de 2011, de um dos principais cartões postais de São Paulo.

A fachada do Masp, por sua importância arquitetônica e histórica na cidade, foi ‘cobiçada’ por muitos artistas. Como é, para você, poder intervir em um dos principais pontos paulistanos?

No meu percurso, eu fiz diversos trabalhos em arquiteturas especiais em outros países, mas claro que fazer esse trabalho no Brasil tem um significado especial. É um prédio pelo qual tenho muito carinho, admiro as características do edifício e o trabalho que Lina Bo Bardi desenvolveu. Tudo foi inspirador para esta intervenção.

Como foi a concepção de ‘Tramazul’?

A temática de um céu ‘deslocado’, numa intervenção arquitetônica, foi o motivo central de um trabalho que fiz no Museu Vale (no Espírito Santo) há três anos. Num primeiro momento, a imagem seria fotográfica, como a de lá, mas achei que era muito próxima do real, dos reflexos que o céu produz nos vidros dos edifícios. Aí, conectei com ideias anteriores, em que eu havia trabalhado imagens bordadas em ponto de cruz. Um trabalho de arte é sempre assim: vai somando diversas possibilidades, coisas feitas e não feitas, projetos realizados e sonhados. De repente, a imagem se concretizou como esse céu bordado.

Desde o princípio pensava em usar exclusivamente os vidros do museu ou você cogitou intervir em outras partes, como as colunas vermelhas, por exemplo?

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Para mim, interessa mais o museu como essa ‘caixa’ suspensa, como um recipiente em que o céu estivesse dentro. E sempre me interessou que ele fosse fixo, em contraposição com o céu real que muda – chove, escurece, anoitece...

O ponto cruz remete ao artesanal, o que não deixa de ser um contraponto com a agitação e o clima de negócios da Avenida Paulista...

 Você pode ver pelo lado de o ponto cruz ser uma prática artesanal transcultural, histórica. Mas, ao mesmo tempo, ele proporciona uma imagem codificada interessante. E o meu trabalho sempre teve foco na constituição e no significado das imagens, antes de tudo. A Paulista é um mundo muito complexo de informações – ela é um ‘tecido’ fantástico de narrativa. Este lugar está ficando cada vez mais espelhado; é uma rede complexa de trânsito, de informação. Eu acho um paradoxo colocar esse céu fixo e artesanal na avenida.

Seu trabalho é marcado por intervenções em locais públicos. Como você vê os impactos desse tipo de obra no contexto da Avenida Paulista?

 O que um artista causa, com uma obra pública com tanta visibilidade, é uma transformação súbita e momentânea da percepção do lugar, um dado mágico. ‘Tramazul’ propõe uma transformação da cena. Temporária.

SERVIÇO:

Tramazul. Fachada do Masp. Av. Paulista, 1.578, 3251-5644, metrô Trianon-Masp. 24h (sugere-se ver a obra durante o dia). Grátis. Até janeiro/2011. http://www.masp.art.br/

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