Exposição aproxima fotos de Mapplethorpe e esculturas de Rodin

Ideia é estabelecer pontos de contato entre a obra de dois mestres de técnicas e épocas diferentes

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Por Camila Molina
Atualização:

Não é novidade relacionar a obra do fotógrafo Robert Mapplethorpe com a de escultores. Em 2009, a Accademia de Florença, onde está o gigante Davi de Michelangelo – mesmo que com rachaduras em seu tornozelo esquerdo, como anunciaram estudiosos –, exibiu as fotografias do norte-americano na mostra Perfection in Form. Agora, porém, é a vez de colocar lado a lado seus retratos em preto e branco com as esculturas de Auguste Rodin, na França.

“O diálogo entre os dois é automático”, diz a crítica de arte francesa Judith Benhamou-Huet, cocuradora da exposição Mapplethorpe-Rodin, em cartaz até 21 de setembro no museu que leva o nome do escultor francês, abrigado na mansão conhecida como Hotel Biron. São 102 fotografias do primeiro, 55 peças escultóricas do segundo. Paris, assim, celebra duplamente o fotógrafo, também representado em ampla retrospectiva de sua obra até 13 de julho, no Grand Palais.

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Antes de chegar à fotografia, Mapplethorpe (1946-1989) queria, na verdade, ser artista plástico. Optou pela fotografia em preto e branco como estética nesse processo, sofisticando, cada vez mais, a técnica. Como descreve Judith Benhamou-Huet, os contrastes de sombra e luz das imagens do fotógrafo podem ser relacionados ao uso do bronze e do mármore (ou do gesso, algumas vezes) nas peças de Rodin (1840-1917). A crítica francesa destaca também a investigação ou referência de materiais (como o tecido, por exemplo) nos trabalhos de ambos e uma acuidade no que se refere aos detalhes e à criação de movimentos. “De fato, Mapplethorpe quis fazer escultura em fotografia”, diz a curadora. “Os dois, também, são fascinados por sexo”, completa.

No caso do fotógrafo, o universo homossexual dominou, até o fim da década de 1970, a temática de sua obra, considerada polêmica. “Na primeira parte de sua vida, Mapplethorpe esteve muito focado em sexo. Ele era homossexual, vinha de uma família católica, tinha a necessidade de expressar e documentar a homossexualidade, o sadomasoquismo”, explica Judith, autora do livro Dans la Vie Noire et Blanche de Robert Mapplethorpe (Grasset, US$ 29,95). “Em 1979, ele se cansou desse tema e até 1989 realmente criou um novo vocabulário.”

Para a exposição em Paris, Judith e as curadoras Hélène Pinet e Hélène Marraud – responsáveis, respectivamente, pela coleção de fotografia e de esculturas do Museu Rodin –, centraram seu olhar no segundo momento da produção de Mapplethorpe. Já do escultor francês, um apaixonado pelo corpo feminino, há a presença de obras pequenas – algumas estavam esquecidas na reserva técnica da instituição francesa.

A curadoria da mostra Mapplethorpe-Rodin não apenas relaciona a obra de dois mestres de técnicas e épocas diferentes, como consegue colocar lado a lado uma simultaneidade impressionante de elementos nas peças dos artistas.

Retratos conhecidos do fotógrafo, como o de 1979 em que sua amiga, a compositora, cantora e escritora Patti Smith está prestes a atravessar uma parede de tecido, de costas para a câmera, dialoga com um torso nu masculino do escultor, criado em 1885 e no qual um homem é representado segurando suas vestes. 

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Outra fotografia famosa de Mapplethorpe, a de Michael Reed despido, em 1987, parece, pela posição do retratado, uma recriação literal da escultura O Homem Que Caminha de 1899, em bronze, de Rodin. Vasos de flores fotografados pelo americano, por exemplo, também se conectam a assemblages pouco conhecidos do francês em que figuras saem de recipientes de terracota.

Foi ideia de Judith Benhamou-Huet, ela diz, preparar essa exposição. Curadora, em 2011, da mostra Warhol TV, apresentada no Brasil, ela também está preparando um livro sobre o escultor brasileiro Aleijadinho (Antônio Francisco Lisboa, 1738-1814). “Suas obras em Congonhas do Campo são como uma instalação contemporânea.”

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