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Ética nos dias de hoje

Estamos vivendo um momento curioso da historia da nossa sociedade. Eticamente curioso. Muitas vezes a cabeça nos diz uma coisa e nossas ações nos dizem outra. Aparentemente Cazuza já havia profetizado: Nossas ideias não correspondem aos fatos! Vejamos. Em viagem recente para a Tailândia, me deparei com a seguinte situação: uma das atrações turísticas era andar de elefante. São centenas de passeios do tipo por todo o país e sempre oferecidos nos hotéis, nas agencias e na rua. A pergunta que não quer calar: isso é crueldade com o bicho? A resposta imediata é: claro! O elefante não foi feito parra carregar ninguém nas costas. Mas o cavalo foi? Podemos dizer que o cavalo foi domesticado pelo homem ao longo dos anos.

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Por Fábio Porchat
Atualização:

Mas no oriente o elefante também foi. Há milênios se anda de elefante por lá. Pode se dizer que o elefante sofreu para poder ficar dócil. Mas digamos que o cavalo não deve achar muita graça na rédea o puxando pela boca. Não estou entrando aqui no mérito de domesticar animais para fazer truques. Dançar, pular em duas pernas, pintar quadro com a tromba, jogar futebol, porque isso me parece crueldade nítida. Estou falando de andar em cima do elefante pura e simplesmente. Sem cela, sem nada, direto no lombo.

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Não quero tentar aliviar minha consciência não, é porque realmente essa questão me pegou. Eu ali no alto, não me senti nem um pouco machucando o animal. Não parecia haver sofrimento. Claro, não sou um biólogo, veterinário, nem tenho exatamente aptidão com bichos, mas na opinião de quem estava lá, me pareceu ok. O que alegam os organizadores é que os elefantes estão sendo monitorados 24h, tem cuidadores particulares e que todos que estão ali, foram salvos de maus tratos e estão impossibilitados de voltarem a natureza.

Ao mesmo tempo, isso não te dá passe livre para explorá-los do jeito que você bem quiser. São cerca de 3.000 elefantes nessa situação. O que se diz é que essa é a forma que se encontrou para uma criação sustentável. Imagine alimentar com 250 quilos de comida diária cada um deles. Quem paga? Quem cuida, quem protege? Como atração turística eles são salvos e ainda atraem dinheiro para o país. E no meio de toda essa confusão de ideias, é que me dei conta daquilo que comentei no inicio do texto. Como discutir eticamente o sofrimento dos animais se ainda comemos carne, ovo e derivados de leite? Esse bichos não sofrem? Claro que sofrem.

Mas a maioria das pessoas aceita esse sofrimento. Se você não é 100% vegano, você de alguma forma está maltratando algum animal. Os remédios que você usa, muitos foram testados em animais. E agora? Nossa cabeça sabe que o que fazemos com os bichos é pavoroso, mas nossas ações diárias nos contradizem.

De um modo geral, formamos uma ética própria que nos alivia da culpa e nos permite viver em paz, sem que aquela “dor” abale nosso dia a dia. Isso com qualquer tipo de questão. Continuo em duvida quanto ao meu passeio, mas tenho certeza de que precisamos repensar seriamente nosso convívio com os bichos e transformar nossas palavras em atos!

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