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Estudo dos efeitos do golpe sobre pessoas comuns

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Por Redação
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Crítica: Luiz Zanin OricchioCom No, sobre o referendo de 1988, o diretor Pablo Larraín completa sua trilogia do período Pinochet, cujos dois primeiros filmes são Tony Manero (2006) e Post Mortem (2010).Se em No, Larraín vai direto à questão política através do marqueteiro vivido por Gael García Bernal, em Tony Manero é mais alusivo, e nem por isso menos contundente. Seu ator fetiche, Alfredo Castro, é um tipo meio descerebrado, cuja paixão obsessiva pelo John Travolta de Embalos de Sábado à Noite o leva a adotar o nome do personagem, Tony Manero. Seu grande sonho é vencer um desses concursos de TV para imitadores de astros. Enquanto isso, vive seu cotidiano medíocre como chefe da trupe mambembe composta por sua mulher, enteada e o marido desta. Por trás, o ambiente hostil da ditadura, irrespirável e caldo de cultura para o florescimento de todas as perversões pessoais. Singularmente, Raúl Peralta (Castro) parece muito adaptado a esse regime político que estimula os baixos instintos. Post Mortem, que competiu em Veneza em 2011, tem Alfredo Castro outra vez como protagonista. Ele é Mario, escrivão do Instituto Médico Legal de Santiago. Anota o que o médico vai dizendo durante as autópsias e depois transcreve tudo em fichas datilografadas. Em sua vida cinzenta, Mario cai de amores pela vizinha, a atriz Nancy Puelmas (Antonia Zegers), dona de uma beleza estranha, exótica, talvez um tanto desequilibrada.Desta vez, mais que em Tony Manero, visualizamos a atmosfera política pesada do Chile. A União Popular vai vivendo tempos difíceis e movimentos de rua tentam deter o golpe iminente. De repente, Mario e seus colegas de necrotério notam que o serviço aumenta demais. Corpos e mais corpos exigem autópsia. É, dos filmes de Larraín, o que registra o momento traumático do golpe. O cinema de Larraín estuda os efeitos da ditadura sobre as pessoas comuns, muito comuns, como o pobre Mario, ajudante de autópsias, ou Raúl, que queria ser John Travolta.

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