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ENTREVISTA-Adrien Brody fala de Houdini e seu sonho americano

Envolto em correntes e camisas-de-força, Adrien Brody mergulha fundo nas águas revoltas da vida pessoal e das cruzadas públicas do ilusionista Harry Houdini na minissérie televisiva "Houdini". A atração em duas partes, que estreia em 1o de setembro no canal a cabo norte-americano History, mapeia o caminho de um dos primeiros astros de primeira grandeza do país em um drama existencialista sobre morte, espiritualidade e os charlatões que exploram os medos humanos. Aos 41 anos, o vencedor do Oscar de melhor ator por “O Pianista” em 2002 falou à Reuters sobre como Houdini influenciou sua própria carreira, a profunda racionalidade do ilusionista durante o movimento espiritualista do início do século 20 e do por que de um imigrante húngaro-judeu ter ajudado a definir o sonho americano moderno.

Por ERIC KELSEY
Atualização:

  P: O que o atraiu na história de Houdini?

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R: Apaixonei-me pela mágica muito cedo. Comecei a aprendê-la e a sonhar em ser mágico ainda com seis anos de idade, e Houdini era uma grande inspiração.

Ser ator veio depois dessa introdução à atuação. Vejo paralelos, e como foi um pontapé inicial para entender como tornar algo seu, tornar um papel seu, criar uma ambientação e se conectar a ela. Tudo deriva do desenvolvimento e da criação desta ilusão, que aprendi muito cedo.

P: Este papel mudou a maneira como você vê sua infância?

R: Ele me fez me reavaliar como homem. Principalmente porque testemunhei o que esse homem aguentou em nível menor, com o risco envolvido, sua determinação, o desconforto que deve ter sentido, a pressão de todos seus números e seu empenho incansável para superar estes obstáculos.

P: O que você aprendeu em especial?

R: O que eu não sabia na infância e na adolescência sobre Houdini era que ele teve muitos fracassos pelo caminho, e decepções. Ele acabou se diferenciando de outros mágicos de sua época por se tornar um especialista em fugas, e ninguém fazia uma apresentção como ele, então ele percebeu como se colocar acima do resto.

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P: Pode falar da tensão espiritual dentro dele?

R: Todos nós temos forças diferentes nos puxando em direções diferentes, e ele desejava profundamente acreditar no sobrenatural.

P: Mas a minissérie se concentra muito na campanha de Houdini contra o movimento espiritualista dos anos 1920.

R: Acho que isso o desviou do caminho. Ele teve sucesso lutando contra isso, mas vejo o caso como uma batalha jurídica sem fim sobre a qual ele tinha uma certeza ardente e na qual por fim prevaleceria, mas o preço foi muito grande para ele e, até certo ponto, para sua carreira e criatividade.

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P: O que é duradoura na história de Houdini? Seu nome ainda causa um grande impacto quase 90 anos depois de sua morte.

R: O que ele representa é que você pode superar e vencer a maioria dos obstáculos se se dedicar a isso de corpo e alma, e a maioria das pessoas não têm a vontade e a resistência que Houdini possuía. É uma coisa mental no final das contas. Se você acha que não vai aguentar alguma coisa, não aguenta.

Esse empenho é extremo, mas muito admirável. É digno de nota, mas também é digno de nota como lembrete de que este país permite que esse tipo de milagre aconteça, mais do que qualquer outro lugar do mundo.

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É um exemplo disso. Minha mãe fugiu da Hungria durante a revolução de 1956 e imigrou para os Estados Unidos. Meus pais trabalharam muito duro, e não conhecíamos ninguém no ramo do cinema. Com incentivo e disciplina, e uma dose de tenacidade da minha parte, e sorte, consegui o impossível.

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