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Em busca de novos mercados

Tradicional feira de Maastricht faz mostra prévia em São Paulo para atrair clientes

Por Camila Molina
Atualização:

Em tempo de recessão econômica na Europa e nos EUA, a América do Sul e a Ásia são os mercados emergentes que se tornaram foco das estratégias dos vendedores de obras de arte. "Já fizemos parcerias com Argentina, Uruguai e Chile, mas certamente o Brasil é o nosso alvo principal", diz Ben Janssens, presidente da comissão executiva da Tefaf Maastricht, feira de arte e antiguidades de alto nível, que ocorre na Holanda há 25 anos. No evento, obras de artistas como Van Gogh, Picasso, Francis Bacon ou Lucien Freud são comercializadas ao lado das de mestres do passado, como o quadro A Crucificação, de Peter Paul Rubens (1577-1640), vendido, na edição deste ano, em março, por 3,5 milhões. Já que clientes e galerias brasileiras interessam à feira, a Tefaf realiza agora em São Paulo uma mostra prévia de obras que colocará à venda em 2013.Na Casa Petra, espaço localizado no bairro de Moema, será inaugurada hoje uma exposição rara com 74 peças como o quadro Retrato de Um Cavalheiro, do pintor espanhol Diego Velázquez (1599-1660), o autor máximo de Las Meninas do Museu do Prado; a tela Man Ray, em que o artista pop Andy Warhol (1928- 1987) retrata em silk screen e acrílica o fotógrafo moderno; uma das pinturas da série Conceito Espacial, de Lucio Fontana (1899-1968); e um conjunto de três esculturas do mineiro Aleijadinho, ou Antônio Francisco Lisboa (1730-1814), mestre do barroco brasileiro.Obras importadas temporariamente, vindas de 31 galerias estrangeiras, não serão comercializadas, apenas exibidas, mas é uma forma de a Tefaf aproximar-se de uma maneira mais direta com o Brasil. "O mercado de arte nunca esteve tão forte, o que é um fenômeno muito interessante. E o cenário na América Latina é vibrante", diz Ben Janssens. A mostra é feita em parceria com a organização Childhood, dedicada a crianças e adolescentes que sofreram abuso sexual. O dinheiro arrecadado com a bilheteria da exposição (com ingresso sugerido de R$ 30) será doado à entidade.Janssens, diretor da feira há seis anos e ele próprio proprietário de uma galeria de arte oriental em Londres, afirma que é complicado replicar a Tefaf e a "atmosfera da Maastricht" em outros países - tal como a poderosa Art Basel, na Suíça, que criou seus braços em Miami, interessada no mercado latino e americano, e em Hong Kong - mas analisa que o Brasil tem um potencial de compradores para uma feira muito cara, cujo valor dos seguros, por exemplo, é de 3 bilhões a cada ano. "Cobrimos mais obras tradicionais e de mestres do passado em nossa feira, mas diria que o interessante é que vemos hoje um cruzamento entre compradores de arte contemporânea ou moderna, interessados em adquirir, por exemplo, uma escultura clássica grega", diz o diretor da feira.Segundo Janssens, ainda, "as pessoas não compram apenas um tipo de coisa". "E se olharmos nos últimos anos em Maastricht, os colecionadores têm feito esse cruzamento mais e mais", continua o diretor. "Mas quero ser cuidadoso ao falar sobre aquisição de obras de arte como investimento. Investir em arte com um propósito de curto prazo, diria que não é uma boa ideia."Na Tefaf, cerca de 30% dos 3 mil objetos expostos são pinturas dos velhos mestres - mais ainda, 36% são peças de antiguidades, 34% obras modernas e contemporâneas e há também criações de design. A edição deste ano foi visitada por 72 mil pessoas e a organização da feira afirma que 44% dos compradores vieram de fora da Europa, com aumento de clientes da Rússia, China, Hong Kong e Cingapura. "Acho que vou sair da direção da Tefaf daqui a uns dois anos", adianta Ben Janssens, analisando que sua maior contribuição para o evento foi a introdução de seções com jovens galerias e de design. "A mistura de compradores conservadores e de vanguarda tem crescido, principalmente, nos últimos cinco anos."A mostra que será aberta hoje em São Paulo é eclética, com pinturas, esculturas, peças de cerâmica, pratarias e torsos de mármore gregos criados antes de Cristo. "Queremos mostrar a alta qualidade de nossa feira", afirma Ben Janssens.

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