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Decisão

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Por Fábio Porchat
Atualização:

Quando eu tinha 18 anos, decidi que queria ser ator. De repente. Nunca havia me passado pela cabeça. Eu já tinha feito teatro na escola e tal, mas sempre como hobby, nunca como possível carreira. Eu, inclusive, cursava administração em marketing na ESPM aqui em São Paulo na época, meu foco era só esse. E minha decisão foi rápida e rasteira. Do momento em que tomei a decisão até botar em prática o meu "plano", se passou apenas um mês. Larguei a faculdade, me mudei para o Rio, entrei para a escola de teatro e comecei uma nova vida. Meus pais me apoiaram 100%, minha família toda deu força. Fui morar com os meus tios lá no Rio, que foram perfeitos e me receberam de braços abertíssimos, como um filho. Olhando para trás, agora, todos sorriem e respiram felizes e aliviados por terem acertado ao terem dado crédito para aquele moleque doido, que, de uma hora pra outra, resolveu mudar completamente. Na época, eu nem me dei conta da maluquice que foi essa minha ideia, acho que até talvez por isso mesmo é que eu fui, porque não me dava conta de como a carreira de ator é difícil, de como começar tudo do zero sem conhecer ninguém é trabalhoso e de como as pessoas ao redor poderiam ter interferido nessa minha empreitada, ainda mais que eu não trabalhava e era sustentado pela família. Por que digo tudo isso: semana passada, minha tia de 18 anos (pois é, vovô era animado) me ligou dizendo que pediu demissão do trabalho, decidiu virar atriz e queria saber o que eu achava. Minha primeira reação foi de falar pra ela: "Você tá maluca? Por que você fez isso? Essa profissão é dificílima e pra ganhar dinheiro sendo atriz tem que ralar muito e, mesmo assim, o dinheiro é pouco. Tem certeza que é isso que você quer? E mais, você quer ser atriz pelos motivos certos? Ou você quer ser famosa? Não faz isso!". Foi então que me dei conta de que, provavelmente, foi isso tudo que passou pela cabeça de todo mundo quando resolvi que ia ser ator. E percebi como é difícil opinar quando você está lidando com o sonho de alguém. Ela quer isso e tem o direito de tentar. Mesmo que quebre a cara. A gente com 18 anos foi feito pra quebrar a cara, inclusive. Mas ela pediu a minha opinião, não podia dizer pra ela que tudo será uma maravilha. Tentei ser o mais neutro possível, apoiar a decisão, mas mostrar que ela está se arriscando. E quando desliguei o telefone, pensei nos meus pais, na minha família e como eu sou grato por eles terem sido tão legais comigo. E que, talvez, eu nunca tenha dito pra eles que se não fosse por eles, nada do que aconteceu comigo teria sido como foi. Obrigado! E depois, eu fiquei pensando neles e fiquei feliz.

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