Curador francês pede 'intervenção urgente' no Masp

Situação é 'catastrófica' para instituições culturais de SP, diz funcionário do Louvre.

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Por Mônica Vasconcelos
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Representantes de museus e especialistas em arte europeus se dizem preocupados com a situação do Masp e pedem uma ação urgente do poder público para resolver a crise. Curador-chefe no departamento de Artes Gráficas do Museu Louvre, Régis-Michel é enfático em sua opinião. "A situação é catastrófica porque pode prejudicar a reputação das instituições culturais em São Paulo que são, com freqüência, dinâmicas e prestigiosas", disse Michel em entrevista por e-mail à BBC Brasil. "Está claro que apenas uma intervenção forte, determinada e urgente do poder público tem a possibilidade de salvar o museu, e há autoridades experientes nas administrações da cidade e do Estado de São Paulo", defende o curador. O nome de Régis-Michel está entre outros mais de 3 mil incluídos em uma petição reivindicando uma intervenção pública no Museu de Arte de São Paulo, que é uma instituição privada. A petição é parte da campanha SOS Masp, de iniciativa do professor de História da Arte da Unicamp e ex-curador-chefe do museu Luiz Marques. O documento propõe um modelo de gestão com responsabilidades compartilhadas entre o Estado e uma organização social autônoma. Segurança Para Régis-Michel, o roubo dos quadros de Picasso e Portinari (já recuperados) em dezembro passado é sintoma de problemas mais amplos. "Nenhum museu está seguro contra roubo, como vimos, por exemplo, na Áustria e na Noruega, onde obras importantes foram roubadas da forma mais incrível e felizmente recuperadas", disse o curador. "No caso do Masp, parece que esses roubos são o sintoma mortal de uma decomposição geral que ocorreu em todos os aspectos de sua museografia e que têm óbvias e graves conseqüências para a conservação de suas coleções." "Apenas isso já justifica a intervenção direta do poder público em nome do respeito básico pelo patrimônio nacional", avalia Michel. Parceria O ex-secretário da Cultura de Florença e ex-diretor do Instituto Italiano de Cultura de São Paulo, o professor Guido Clemente, e o diretor do Musée Picasso de Antibes, Jean-Louis Andral, também assinaram a petição. Clemente diz que uma parceria público-privada seria a melhor solução para o Masp. "Assinei (a petição) porque conheço o Brasil e o Masp é uma coisa maravilhosa, tem o maior acervo da América do Sul", disse Clemente, em entrevista à BBC Brasil. "A fórmula público-privada é o melhor modelo, a exemplo de experiências nos Estados Unidos." Clemente afirma que ele próprio usou esse tipo de fórmula quando foi secretário da Cultura em Florença. Segundo o arranjo, o poder público cedia o prédio e um conselho privado administrava autonomamente o museu. "Mas a prefeitura manteve o controle." Jean Louis Andral - ex-curador do Musée d'Art Moderne, em Paris, e hoje diretor do Musée Picasso, em Antibes, na França - mencionou à BBC Brasil uma outra preocupação de instituições internacionais: a impossibilidade de fazer intercâmbios e parcerias com o Masp na conjuntura atual. Andral diz que nos anos 90 fez intercâmbios desse tipo, mas avalia que essas parcerias não seriam possíveis hoje. "Você tem de ter as condições para esse tipo de parceria, e eu realmente não sei se isso seria possível hoje." O diretor do Musée Picasso afirma que apóia a campanha SOS Masp porque está preocupado. "Esta coleção pertence a todo cidadão brasileiro e deve ser protegida." Resposta A BBC Brasil procurou a direção do Masp para uma entrevista, mas não obteve resposta até o momento da publicação desta reportagem. A direção do Masp, no entanto, publicou nota paga em jornais no último fim de semana em que diz ter "interesse na efetiva participação dos três níveis de governo em seu Conselho, e, ainda, de entidades e empresas privadas, desde que vinculados ao aporte regular de recursos financeiros". Em entrevista à BBC Brasil, Luiz Marques, que está à frente da campanha SOS Masp, disse que a proposta do Masp "não é razoável". "A proposta do Masp condiciona a participação das três instâncias do Estado a um aporte de recursos, escamoteando o fato de que essa participação seria apenas de caráter decorativo, isto é, sem nenhum poder regimental de influir na gestão do Museu." Marques argumenta que isso é apenas "socializar o prejuízo de R$ 15 milhões que constitui o passivo atual do Masp". BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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