CNBB lança nova tradução da Bíblia

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Por Agencia Estado
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As sete maiores editoras católicas brasileiras formaram um pool para publicar a Bíblia - Tradução da CNBB, a ser lançada em julho, com uma edição inicial de 115 mil exemplares, durante a Assembléia Geral dos bispos, em Itaici. O texto, que vem sendo preparado há dez anos por uma equipe de cinco especialistas, sob a coordenação do padre jesuíta Johan Konings, do Instituto Santo Inácio, de Belo Horizonte, tem por referência a Nova Vulgata, que é a tradução latina oficial da Igreja, feita por recomendação do Concílio Vaticano II, com base da Vulgata de São Jerônimo, do século 5.º. "Tomamos a Nova Vulgata como modelo, mas conferimos os originais aramaicos, hebraicos e gregos, palavra por palavra", diz o padre Konings, diante de mais de 20 traduções da Bíblia abertas na mesa de seu escritório. O time de tradutores que ele coordena é formado por frei Ludovico Garmus (Petrópolis) e pelos padres Ney Brasil Pereira (Florianópolis), José Luís Gonzaga Prado (Guaxupé) e José Raimundo Vidigal (Belo Horizonte). O consórcio de editoras reúne Ave-Maria, Dom Bosco, Loyola, Paulinas, Paulus, Santuário e Vozes. Elas terão seus selos na edição conjunta, pois todas contribuirão, com participação maior ou menor, para a impressão da nova versão da Bíblia. A CNBB esclarece que, embora se trate de uma tradução com a chancela do episcopado, a iniciativa não dispensará as edições já existentes. "Cada Bíblia tem o seu nicho, dependendo do público ao qual se destina", explica o padre Konings, dando como exemplo a Bíblia Sagrada, Edição Pastoral, muito usada pelas Comunidades Eclesiais de Base (Cebs). A tradução patrocinada pelos bispos atenderá principalmente à catequese e à liturgia. Feita a partir dos textos litúrgicos em uso na Igreja, ela busca um meio-termo entre as versões mais literárias, como a Bíblia de Jerusalém, e as mais populares, como a Pastoral. "Optamos por um texto direto, simples e moderno, mas com solenidade", adianta o coordenador da tradução. A versão da CNBB mantém o tratamento pronominal da segunda pessoa do singular e do plural - tu e vós - em vez de você/vocês, como aparece em algumas traduções recentes. Os tradutores tiveram também o cuidado de não adaptar expressões que pudessem levar a ambigüidades ou alimentar preconceitos. Evitou-se, por exemplo, traduzir geração por raça, para não criar problema em celebrações ecumênicas presenciadas por judeus, quando Jesus chama os fariseus de "geração de víboras". No prólogo do Evangelho de São João, quando outras versões dizem que "no princípio, era o Verbo", preferiu-se substituir "Verbo" por "Palavra", que em português corresponde melhor ao termo usado com este sentido em outros trechos da Bíblia. Para chegar a decisões como essa, os tradutores tiveram de consultar os originais e, em alguns casos, desprezar traduções tradicionais que registravam expressões inadequadas. A CNBB sugere que, se necessário, as editoras acrescentem esclarecimentos em notas de rodapé. Conceitos - Padres, catequistas e coordenadores de círculos de estudos também são incentivados a explicar as expressões que têm de ser entendidas de acordo com a cultura da época. Um exemplo é a palavra "publicano" que, segundo a CNBB, teria de ser substituída por "cobrador de impostos a serviço do Império opressor" ou "fiscal do FMI", se fosse para atualizar a tradução. "É melhor respeitar o princípio do judaísmo e dos primeiros cristãos", aconselham os responsáveis pela nova tradução, lembrando que "a Torá e a Bíblia sempre vêm acompanhadas da explicação". A CNBB evitou chamar sua versão de tradução oficial, para não desautorizar outras edições católicas da Bíblia que têm o seu público e continuarão no mercado. Outra preocupação foi não entrar em conflito com igrejas evangélicas, o que poderia dificultar o diálogo inter-religioso e ecumênico. "Nossa tradução não é ecumênica, mas será apresentada como uma tradução da Igreja Católica que poderá facilitar a aproximação com os evangélicos", diz o padre Konings. Os bispos pretendem negociar com as igrejas mais próximas, especialmente com as que fazem parte do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (Conic), uma adaptação ecumênica da tradução do texto-referência a ser lançado em julho. A única versão ecumênica existente no Brasil é a erudita Tradução Ecumênica da Bíblia (TED), feita a partir de um texto em francês. A Bíblia Sagrada - Nova Tradução na Linguagem de Hoje, lançada pela Sociedade Bíblica do Brasil, não atende ao ecumenismo defendido pelos católicos, porque não inclui os livros rejeitados pelos protestantes, que são Baruc, Tobias, Judite, Sabedoria, Eclesiástico e Macabeus. A tradução da CNBB não é a primeira iniciativa nesse sentido. As conferências episcopais da Alemanha, Espanha e Itália, que foram pioneiras nessa experiência, também tomaram a Nova Vulgata como modelo. Antes de partir para a edição completa da Bíblia, a conferência dos bispos lançou, em 1997, uma tradução experimental do Novo Testamento, com um pedido aos leitores para que enviassem críticas e sugestões. O objetivo era oferecer um estilo uniforme, além de uma linguagem ao mesmo tempo simples, clara e solene.

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