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Clássico da genealogia é reeditado em CD-ROM

Obra publicada por Luiz Gonzaga da Silva Leme há um século se beneficia das possibilidades da informática com o trabalho coordenado por Marta Amato

Por Agencia Estado
Atualização:

A genealogista Marta Amato realizou uma feliz demonstração prática das inúmeras novas possibilidades de aplicação da informática na pesquisa histórica. Está agora disponível em CD uma edição revista e ampliada da Genealogia Paulistana, de Luiz Gonzaga da Silva Leme, uma das principais obras que fundamentam as pesquisas históricas do período colonial paulista e brasileiro. O CD será lançado na quinta-feira, às 20h, no TH-Hall, com uma apresentação da pianista Maria Thereza Russo. Publicada uma única vez em nove volumes, lançados sucessivamente entre os anos de 1903 e 1905, a obra de Silva Leme só é encontrada em algumas bibliotecas públicas, coleções particulares e sebos. O autor dedicou 12 anos de sua vida pesquisando arquivos em São Paulo e outros Estados. Chegou mesmo a abandonar suas atividades profissionais para poder concluir a obra exaustiva. Silva Leme, ele mesmo descendente de antigos troncos paulistas, nasceu em Bragança em 1852. Após se formar em Direito em São Paulo, partiu para Nova York, onde estudou engenharia civil. Nos Estados Unidos, chegou a trabalhar na construção de uma ferrovia na Flórida. Voltando ao Brasil, foi trabalhar na Estrada de Ferro de Rio Claro a São Carlos e posteriormente trabalhou como inspetor-geral da Bragantina até 1898, quando se retirou para poder terminar suas pesquisas. Sua obra é uma atualização, na passagem do século 19 para o 20, da Nobiliarquia Paulistana, obra clássica da genealogia realizada por Pedro Taques de Almeida Paes Leme em meados do século 18. Silva Leme, portanto, fez uma continuação crítica da obra de Pedro Taques. E o mesmo se pode dizer agora do trabalho de Marta Amato: uma ampliação crítica da obra de Silva Leme, incorporando os recursos de busca e armazenamento de dados da informática. Como os paulistas foram os primeiros povoadores do sul, sudeste e centro-oeste brasileiro, a obra interessa a gaúchos, catarinenses, paranaenses, mato-grossenses, mineiros, goianos e fluminenses e a todos os pesquisadores do período colonial brasileiro nessas regiões. De fato. Eram de São Vicente os primeiros moradores da cidade fundada por Estácio de Sá na baía de Guanabara. Como também eram de São Paulo os primeiros moradores de Curitiba, Laguna, Vacaria e Viamão, as primeiras cidades do sul brasileiro, fundadas por tropeiros paulistas. Assim como eram paulistas os primeiros mineiros, mato-grossenses e goianos. O célebre Marechal Rondon, por exemplo, era mato-grossense descendente da família Rendon, uma antiga família paulista de origem espanhola, miscigenada com índios. Aliás, essa é a principal característica da formação dos primitivos paulistas: a miscigenação do europeu com o índio. Os primeiros colonos portugueses, mais os trabalhadores nos engenhos de açúcar (alguns genoveses e flamengos) e mais os degredados (criminosos deportados de Portugal para cá), acabaram por se miscigenar com as índias, seguindo o exemplo de João Ramalho e Antonio Rodrigues - náufragos ou degredados, não se sabe ao certo -, que já se encontravam na região há décadas e que possuíam uma grande prole mestiça. Durante o período de união das coroas ibéricas, entre 1580 e 1640, aumentou a vinda de espanhóis que se fixaram em São Paulo. Preconceito - É desta época, por exemplo, a formação da família Godoy em Santana do Paranaíba, uma numerosa família brasileira espalhada por todo o sul, sudeste e centro-oeste, fruto do casamento do espanhol Baltazar de Godoy com Paula Moreira, filha do Capitão-Mor Jorge Moreira. E é também desta época a vinda da família Rendon, da qual descende Cândido Mariano da Silva Rondon (uma corruptela de Rendon). Existe um verdadeiro preconceito com a genealogia, vista por muitos como apenas uma fonte para o frívolo exercício de resgate de vestígios de uma eventual ascendência nobre. No entanto, esta é apenas a sua faceta menos importante. Verdadeiros historiadores sabem da importância dela como uma ferramenta formidável para a História Social. O crítico e ensaísta Antonio Candido considera o trabalho de Marta Amato "um feito intelectual digno dos maiores elogios", resultado de "pesquisas rigorosas". Durante mais de 60 anos, cogitou-se fazer uma reedição de Silva Leme. Para superar esse desafio, Marta Amato - experiente genealogista e uma das fundadoras da Associação Brasileira de Genealogia - teve de enfrentar muita poeira em 13 anos de intensas pesquisas em documentos paroquiais, inventários e testamentos de São Paulo e Minas Gerais. A fase de edição e a adequação para CD levou exatos três anos e sete meses. Essa etapa final contou com o auxílio do programador Fernando Giacometti, do desenhista Alexandre Antonio de Oliveira e da editora-assistente Bartyra Sette. A ortografia foi atualizada e novos títulos inseridos aos já existentes, tais como Félix, Edra, Nunes, Penã, Motta, Gonçalves e Vieira. Foram também efetuadas correções e acréscimos inéditos de diversos autores. Parentescos - A genealogia fornece muitas surpresas. Através dela pode-se descobrir parentescos absolutamente desconhecidos. Como por exemplo a constatação de que d. Ruth Cardoso e d. Maria Lúcia Alckmin descendem de um mesmo casal - Guilherme da Cunha Gago e Brígida Sobrinha de Aguiar - e são primas em quinto grau. Ou de que descendem dos mesmos antepassados o ditador Getúlio Vargas, gaúcho da fronteira, e Francisco Ribeiro Batista, a última pessoa a ser enforcada no Brasil em 1857, por ter matado um credor, em Caldas, Minas Gerais. A esposa do ex-governador Carlos Lacerda, d. Letícia Abruzzini de Lacerda, era parente do ex-presidente da República Delfim Moreira. A rainha Sílvia da Suécia, por sua vez, descende da família Toledo, velho tronco paulista de origem espanhola, e também dos Arruda Botelho, luso-brasileiros nobilitados durante o Império. Serviço Genealogia Paulistana. De Luiz Gonzaga da Silva Leme. Reedição coordenada por Marta Amato. R$ 200,00. Amanhã, às 20 horas. TH-Hall. Rua Itambé, 315, tel. (11) 3822-2250.

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