Chega às livrarias obra em que Grass diz ter sido nazista

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Por AE
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O polêmico livro do escritor alemão Günter Grass, Nas Peles da Cebola (420 págs., R$ 60), em que o Nobel de Literatura revela seu envolvimento com o regime nazista quando jovem, chega hoje às livrarias de todo o País pela editora Record. A tradução do escritor gaúcho Marcelo Backes exigiu dele, exímio tradutor de Heine, Schnitzler e Marx, um posfácio para explicar não só as razões de ter optado por esse título - o original, Beim Häuten der Zwiebel, está mais próximo de Descascando a Cebola - como as dificuldades para verter a linguagem metafórica de Grass e sua técnica codificada em alemão como Vergegenkunft, que une, segundo Backes, três tempos (o passado, Vergangenheit, o presente, Gegenwart, e o futuro, Zukunft). Backes destaca ainda o difícil enfrentamento com a mania algo esquizóide de Grass usar a terceira pessoa para falar de si mesmo, artifício que, lembra o tradutor, já havia utilizado em O Tambor, seu livro mais conhecido. Falar na terceira pessoa, diz o senso comum, pode indicar alguma perturbação mental, mas é válido e conveniente como recurso estilístico. Livra-se do peso de memórias incômodas e culpa-se o ?outro? pelas besteiras que se faz. Pode ser que, aos 15 anos, Grass fosse mesmo um imbecil apaixonado pela suástica, mas, aos 18, Rimbaud já havia parado de escrever poesia por considerar que nada mais tinha a dizer ao mundo. Enfim, o fato é que Günter Grass, ao 15 anos, apresentou-se como voluntário aos nazistas, primeiro à Marinha, sem ser recrutado. Insistiu e, aos 17, conseguiu ser integrado à tropa de elite Waffen-SS. Grass jura que nunca deu um tiro nem matou ninguém. Foram os outros. Sempre os outros. Muitos jovens alemães foram recrutados pelo regime - e não se apresentaram como voluntários, o que faz toda a diferença. Até onde se conhecia essa história, Grass teria servido ao Reich como soldado auxiliar na artilharia antiaérea. Ao ser lançado na Alemanha em setembro do ano passado, o livro, naturalmente, provocou escândalo, especialmente porque Grass era considerado, até então, uma espécie de guardião da consciência alemã, uma autoridade moral social-democrata que condenou o nazismo em todas as suas formas. Quando a guerra acabou, Grass foi preso num campo americano, onde conheceu o prisioneiro Joseph Ratzinger, o futuro papa Bento XVI. Como ele, Ratzinger foi convocado para lutar ao lado dos soldados de Hitler. Grass, à época do lançamento, tentou explicar a razão de ter permanecido 60 anos em silêncio antes de tomar coragem e escrever o livro. Rebateu as críticas e admitiu que deveria ter falado antes, mas argumentou que seu passado o autorizava a não ser julgado por um erro de juventude, julgando que tudo o que fez ao longo da vida apagava os equívocos cometidos durante a adolescência. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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