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Certeza absoluta

Por Vanessa Barbara
Atualização:

Em época de eleições, não somos apenas vítimas de spams e posts inflamados de terceiros alegando que o Aécio tem caspa ou que a Dilma comeu um pombo, mas, o que é ainda pior, somos vítimas de nossos próprios vieses cognitivos. Que são até mais difíceis de combater, pois são involuntários e quase instintivos. Segundo a psicologia, viés cognitivo é um padrão de desvio do julgamento que nos leva a tomar decisões ou interpretar evidências de forma distorcida, sem perceber. De acordo com o viés de grupo, por exemplo, podemos escolher um partido ou candidato e nos comportar feito hooligans perante a torcida oposta. Praticamos a indignação seletiva, perdoando ou justificando as faltas de nosso time e condenando prontamente o outro lado. Tudo o que nossos amigos fazem é bom, e tudo o que os adversários aprontam é automaticamente desprezível. Também estamos sujeitos ao viés de confirmação, que é a propensão a buscar, priorizar e acatar informações que comprovem nossas opiniões preexistentes, ao mesmo tempo que rejeitamos tudo o que as contradiga. Através dessa lógica seletiva, tentamos nos defender de indícios que possam abalar os alicerces de nossas certezas. É o que acontece quando procuramos no jornal apenas as notícias que estejam de acordo com o que pensamos, seja a redução da maioridade penal ou a criminalização da pochete. Outro viés perigoso é a chamada "racionalização pós-compra", um mecanismo de valorização posterior de escolhas já feitas. Trata-se de uma forma subconsciente de justificar nossas decisões - sejam carros de luxo ou votos passados - e satisfazer nosso desejo psicológico de consistência, evitando assim dissonâncias cognitivas. Também tendemos a interpretar dados ambíguos de modo a favorecer nossas ideias. De acordo com Leonard Mlodinow, autor de O Andar do Bêbado, estamos mais preocupados em encontrar e confirmar padrões do que em diminuir nosso índice de conclusões falhas. Pior: cada vez mais, a internet tem reforçado nossos vieses cognitivos. Filtros e algoritmos de pesquisa priorizam os resultados que queremos ver, e não necessariamente o que precisamos ver (a esse respeito, ver vídeo do ativista Eli Pariser em www.ted.com). Também há filtros nas redes sociais, onde, além disso, excluímos os opostos e nos cercamos de nossos pares. Não procuramos mais informação, mas confirmação, rejeitando tudo aquilo que é desconfortável, desafiador e antagônico. Queremos continuar confortáveis com nossas visões de mundo, então buscamos dados que as sustentem. Em vez de provar que certas hipóteses estão erradas, passamos o tempo tentando provar que estão certas; porém, como ensina a ciência, só nos aproximamos da verdade quando buscamos o maior número possível de evidências contrárias. Em resumo: é preciso ter mais isenção e menos cera no ouvido (e isso vale também para quem menospreza a opção de votar nulo).

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