Cemitério de Automóveis abre mostra no CCSP

Diretor Mário Bortolotto apresenta série de 14 peças do repertório do grupo, apostando "no que o teatro tem de mais essencial: texto e ator"

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Por Agencia Estado
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Se por um lado as condições de produção de um espetáculo tornam-se a cada dia mais árduas - num panorama de verbas escassas e altos custos -, por outro a palavra de ordem da classe teatral parece ser resistir. Companhias teatrais como o Grupo Tapa, os Parlapatões e o Grupo Folias D´Arte, entre outras, optaram por produzir muito, com pouco dinheiro. Manter um repertório em cena é uma forma de provar que talento existe, falta apoio para o pleno desenvolvimento. Esse mesmo espírito de resistência move o ator, dramaturgo e diretor Mário Bortolotto que, a partir desta terça-feira, apresenta no Centro Cultural São Paulo (CCSP) uma mostra reunindo 14 espetáculos selecionados do repertório do Grupo Cemitério de Automóveis. Integram a programação peças já encenadas em São Paulo, como Medusa de Rayban e Diário das Crianças do Velho Quarteirão, ambas indicadas para o Prêmio Shell de melhor texto, e nove espetáculos inéditos, todos de Mário Bortolotto. Apenas um deles, Tanto Faz, adaptação do livro homônimo de Reinaldo Moraes, não parte de uma idéia original do autor. "A idéia é apostar no que o teatro tem de mais essencial: texto e ator", afirma Bortolotto. São mais de 20 intérpretes, mais de 30 pessoas entre elenco e equipe técnica, todos amigos, apostando numa futura porcentagem de bilheteria. "Todo mundo fica atrás de grana para produzir e a gente quer mostrar que não é preciso ter uma superprodução; o essencial, para o público, é acompanhar uma boa história", argumenta. Parcerias - Isso não significa produção malcuidada. No porão do CCSP, o grupo armou dois palcos, um menor, para as peças intimistas, cuja temática são as relações humanas, como Efeito Urtigão - um acerto de contas entre dois velhos amigos -, e um palco maior para peças como Medusa de Rayban, que enfoca a violência. Além de colocar em cena o vasto repertório de sua companhia, o diretor convidou vários artistas para participar da maratona, entre eles os atores Jairo Matos, Rodrigo Matheus, Eucir de Souza, Claudinei Brandão e as atrizes Bárbara Paz e Ana Andreatta. Bortolotto, a atriz Fernanda D´Umbra e o ator Joeli Pimentel integram o núcleo básico da companhia, fundada em Londrina, em 1982. Gente vivendo num ambiente hostil, tentando resistir como pode à franca decadência de valores à sua volta inspiram os personagens criados por Bortolotto, também diretor de suas peças. Na mostra, as exceções são Getsemani e Cocoonings dirigidas por Jairo Matos, esta última com um elenco de oito atores interpretando personagens que se recusam a sair de casa e Curta-Passagem, espetáculo dirigido por Fernanda D´Umbra, com seis atores interpretando três cenas curtas, cujo tema é a solidão. Fernanda e Matos também assinam em parceria com Bortolotto a direção das peças Fuck You, Baby e Tanto Faz.. A maratona tem início amanhã à noite, com a apresentação de Medusa de Rayban, e termina no dia 8 de outubro. O tempo de duração média dos espetáculos gira em torno de uma hora. "Peça longa demais enche o saco", diz Bortolotto. Durante a mostra, será exibido um vídeo, no hall do CCSP, com o making of de todo o processo de criação do grupo. As filmagens foram feitas por uma equipe de seis pessoas, sob coordenação de Walter Figueiredo e Robson Timoteo. "Tudo sem dinheiro, na brodagem", diz Bortolotto. Também no hall, haverá uma exposição de fotos de espetáculos do grupo, realizadas por Norberto Avelaneda.

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