Caras novas na tragédia do ônibus 174 em novo filme

Oa atores Michel Gomes, Chris Vianna e Marcelo Mello Jr. realçam a intensidede de 'Última Parada 174'

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Por Luiz Carlos Merten e do Estado de S. Paulo
Atualização:

O longa de Bruno Barreto que estréia nesta sexta, 24, em salas de todo o Brasil, depois de haver inaugurado o Festival do Rio e após, também, sua exibição na Mostra Internacional de São Paulo. O filme vai representar o Brasil no Oscar, na disputa por uma das cinco vagas entre as produções da categoria de Melhor Filme Estrangeiro.   Veja também: Trailer de 'Última Parada 174'      Michel Gomes e Chris Vianna protagonizam a cena mais intensa de Última Parada 174. O próprio diretor, em entrevista ao Estado, considera a cena fundamental na estrutura dramática do filme e acrescentou uma confissão - embora seja um veterano com mais de 30 anos de carreira, Bruno Barreto ficou tão emocionado com, a performance dos atores que abandonou o set em pranto. Chris viu o diretor chorar e pensou consigo mesma - "Chegamos lá."   Última Parada 174 retoma como ficção a história de Sandro, o seqüestrador do Ônibus 174, episódio emblemático da violência urbana, que o País inteiro acompanhou ao vivo pela TV. José Padilha contou essa história como documentário em Ônibus 174. Barreto conta que ficou siderado ao ver o filme de Padilha. Ele ficou com tantas perguntas no ar que pensou - só a ficção poderia respondê-las. E se dispôs a fazer Última Parada 174. O filme não é sobre o seqüestro, que vira somente a última parada na história de Sandro. Para Barreto, seu filme é sobre uma mãe que quer reencontrar o filho que perdeu e sobre um garoto que busca uma substituta para sua mãe que morreu. Quando se encontram, ao invés de se completarem, detonam uma tragédia. Ou dá m..., como diz o cineasta.   Na cena-chave, Chris Vianna pensa estar reencontrando o filho. Michel Gomes sabe que ela não é sua mãe, mas quer sair, a qualquer custo, do reformatório em que está trancafiado. A mãe, temente a Deus, é evangélica. Diz ao filho que não suporta mentira. Michel - Sandro - quase se desmonta pensando que sua mentira foi descoberta. É uma cena de emoções desencontradas, cada personagem projetando no outro uma necessidade que ele não poderá atender. O próprio Barreto, que escreveu a cena com o co-roteirista Bráulio Mantovani, não resistiu à carga de verdade que seus atores conseguiram imprimir à imagem e chorou.   Nem Michel Gomes nem Chris Vianna são neófitos na arte da representação. Ele fez teatro comunitário em Padre Miguel, no Rio, e ostenta no currículo a participação em Cidade de Deus, de Fernando Meirelles, no qual fez o personagem Bené quando criança. Ela fez três novelas, incluindo Sinhá Moça, e o filme Jogo Subterrâneo, de Roberto Gervitz. Ambos foram escolhidos por testes. Michel define-se como um lutador que persegue seu sonho. O dele era protagonizar um filme. Feito o teste, ele telefonava dia sim dia não à produção, tentando saber se o ator de Sandro já fora escolhido.   Um pouco para seguir a linha dramática do documentário, que colhe diversos depoimentos - até conflitantes - para tentar explicar por que Sandro fez aquilo, Bruno Barreto também usa dois personagens, Sandro e Alê Monstro, para compor a dualidade do garoto. Seria muito fácil acusar o diretor de maniqueísmo - um seria o lado bom, o outro, o mau -, mas seria errado, pois há uma inversão em outra cena decisiva da trama, quando Sandro encontra Alê Monstro na casa da prostituta que considera sua mulher e os dois brigam. Surpreso com a reação violenta de Sandro, Alê se intimida e apanha. Alê e Sandro não compõem apenas um só nome. São as duas faces do mesmo herói trágico. Ao enterrar Sandro, Alê, dentro de uma dramaturgia clássica, pode estar enterrando seus demônios para ter, quem sabe, uma segunda chance.   Michel Gomes é camarada de Marcelo Mello Jr., que faz Alê. Eles trabalharam juntos em Cidade de Deus, mas não nas mesmas cenas. No filme de Fernando Meirelles, foram preparados por Fátima Toledo, que também iniciou a preparação de ambos em Última Parada. Fátima psicanalisa, vai ao interior dos atores e remexe suas feridas para prepará-los para as cenas. Seu método é absorvente e interfere na direção. Barreto a substituiu por Ricardo Blat.   Chris agradece ao preparador. "Não creio que pudesse ser tão convincente sem os exercícios de respiração e gesticulação do Ricardo." Para ela, Última Parada conta uma história de amizade e amor, ambos impossíveis num mundo violento e isso é triste. O filme não toma partido em favor deste ou daquele nem busca respostas simples. Muito importante - o público vai perceber que atores como Michel Gomes, Marcelo Mello Jr. e Chris Vianna dão cara nova, além de sentimento real, à miséria e à violência que tanto têm assolado o cinema brasileiro, como espelho do (nosso) mundo.   Última Parada 174 (Brasil-França/2008, 114 min.) - Drama. Dir. Bruno Barreto. 16 anos. Cotação: Regular

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