Um exemplo mais antigo, não citado por Calvino, seria o do mural de Giotto numa capela de Pádua que ilustra o texto bíblico (da Apocalipse de São João): “E o céu retirou-se como um pergaminho sendo enrolado”, em que anjos começam a enrolar as bordas da pintura – isso no começo do século 16.
O autorretrato disfarçado de Velázquez, As Meninas, pintado do ponto de vista do rei supostamente retratado e que só aparece vagamente num espelho no fundo do quadro, é um fantástico estudo sobre a arte e o poder, e um moderníssimo jogo de imagens.
Duzentos anos antes de Cortázar, Laurence Stern, em Tristram Shandy, também convidava o leitor para um jogo literário, e para explorar todas as implicações de ter na mão um objeto chamado “livro” cheio de mentiras e especulações. (Tristram Shandy) contém bolações gráficas fora do texto que devem ter enlouquecido os tipógrafos da época.
A autoconsciência levou a arte moderna à abstração e teria levado à paralisia terminal se não fosse o pós-moderno, que recuperou o faz de conta depois do seu desmascaramento. Fica combinado que tudo é só tinta no papel ou na tela, e que só porque todo o mundo conhece os truques não é razão para aposentar o mágico.