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Abujamra traz "As Bruxas de Salém" de volta aos palcos

Ausente dos teatros brasileiros nas últimas décadas, peça escrita por Arthur Miller há 50 anos estréia amanhã no Teatro Glória, no Rio

Por Agencia Estado
Atualização:

O diretor Antônio Abujamra acredita que está na hora de remontar As Bruxas de Salém, de Arthur Miller, texto ausente dos palcos brasileiros nas últimas décadas. A peça, que está completando 50 anos de estréia, fala de perseguição religiosa e política, de luta entre o justo e o aceitável socialmente, do dilema entre mentira salvadora e a verdade que condena e da opção entre denunciar inocentes ou calar para obedecer à própria consciência. O espetáculo estréia amanhã, no Teatro Glória, no Rio, estrelado por Eriberto Leão, Cláudia Lira e Bel Kutner e com patrocínio da prefeitura do Rio, que garante uma verba de R$ 90 mil para a produção. "Está na hora de montar um espetáculo que é sério e não apenas imita o sério. É preciso falar desse universo em que verdade e mentira caminham juntas e a injustiça sempre ganha", explica o diretor, enquanto confere a trilha sonora criada por seu filho, André Abujamra. "Ser um clássico pesou pouco na escolha porque a peça, muito montada, continua moderna e eterna. Agora, Arthur Miller é fundamental. Dá um recado maior que o puro entretenimento, sabe seduzir as platéias, domina a carpintaria teatral. E, meu Deus, ele se casou com a Marilyn Monroe, a mulher mais desejada do cinema." As Bruxas de Salém conta um episódio ocorrido, no século 17, quando os Estados Unidos eram colônia inglesa. Uma jovem (Bel Kutner), rejeitada pelo amante (Eriberto Leão), simula estar enfeitiçada e acaba por levá-lo à fogueira, após um julgamento em que intolerância e as meias-verdades predominam. O episódio serviu para Miller denunciar a perseguição a pessoas acusadas de serem comunistas, promovida pelo Congresso americano nos anos 50, que ficou conhecida como Caça às Bruxas. "Hoje, com a oposição cristianismo x islamismo que os Estados Unidos tentam impor ao mundo e a perseguição às culturas fora do eixo americano, a peça está plenamente atual", lembra João Fonseca, co-diretor com Abujamra. "Talvez não tenha relação direta com o Brasil, mas os fatos precisam ser pensados." O ator Eriberto Leão encontra paralelos. "Quando meu personagem diz ´sempre somos o que fomos, mas agora estamos nus´, penso no Brasil de 2003, em que não é possível mais viver de aparências", explica ele. Embora tenha ficado mais famoso por namorar a modelo Susana Alves, a Tiazinha, ele tem um currículo recheado. Foi o protagonista de O Evangelho Segundo Jesus Cristo, baseado no livro de José Saramago e dirigido por José Possi Netto, e viveu de novo o personagem, sob direção de Gabriel Vilella. "Em seis anos de carreira, tive a sorte de fazer personagens marcantes com grandes diretores. Possi e Vilella são mestres, mas Abujamra é o grão-mestre, um provocador." Bel Kutner, que também trabalha com o diretor pela primeira vez, faz coro. Ela conta que acompanha as montagens do grupo de Abujamra, de nome impublicável, e explica que esta Bruxas de Salém difere da versão para o cinema que foi badalada por ter Daniel Day-Lewis e Wynona Ryder nos papéis vividos por ela e Eriberto Leão. "O filme é realista, não dá tempo de respirar e você sai do cinema angustiado com o que acontece com aquelas pessoas", lembra ela. "Nessa montagem, há momentos entre o humor e o patético. O Abujamra trabalha mais na fantasia e preservou o coro das meninas, que não apareceu no filme." A surpresa dessa montagem será a aparência de Cláudia Lira, que trocou sua beleza e glamour pela personagem Elizabeth, a mulher traída que renuncia a qualquer encanto. Cláudia trabalhou com Abujamra há dez anos, numa versão de Entre Quatro Paredes, de Jean-Paul Sartre, e faz da contenção um exercício dramático. "É mais difícil passar a emoção dentro da rigidez da personagem, mas é isso que a torna atraente", adianta Cláudia, cuja beleza fica escondida num pesado figurino de época. "Eu adoro aparecer menos glamourosa. Ficar bonita dá muito trabalho", brinca.

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