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'Vida de Cinema' põe em livro as memórias de Cacá Diegues

Nova publicação também faz resgate da história do cinema no País

Por Luiz Carlos Merten
Atualização:
Rica obra. Cacá faz relato essencial, mas também crítico e divertido Foto: Tasso Marcelo/Estadão

Para o espectador que vai ler Vida de Cinema, o livro reserva surpresas. Algumas das mais belas referem-se à rodagem de Joanna Francesa no interior de Alagoas. Cacá havia importado uma grande estrela da França - Jeanne Moreau - e ela foi guerreira ao enfrentar as dificuldades da produção, o isolamento provocado pela barreira da língua. Mas houve um momentro em que Jeanne não aguentou. No último dias, ela pediu um refrigerante e o garoto da produção disse que não tinha mais. Ela explodiu, destratou o jovem que, à noite, lambuzou-se de m..., de certo (psicanálise elementar) para ficar no nível em que ela o colocara. A cena de Joanna, no filme, cavalgando no lombo de Eliezer Gomes - que havia sido Tião Medonho em O Assalto ao Trem Pagador, de Roberto Farias -, ganha outra dimensão, outro significado. Mesmo uma Jeanne Moreau pode encarnar a exasperação do colonizador perante o colonizado - que David Lean filmou como ficção em Passagem para a Índia, por meio do olhar de Peggy Ashcroft.

E Cacá conta como em Joanna Francesa houve a gênese de Bye-Bye Brasil, que viria a ser seu maior êxito internacional. A equipe voltava para o vilarejo que abrigava a produção quando viu aquela luz prateada. Seria disco voador? Não, era a TV que os moradores viam na praça central. O País estava mudando, e ele anteviu naquele momento o que seria a história de Lord Cigano e Salomé, José Wilker e Betty Faria, nas andanças da Caravana Rólidei pelo interior do Brasil. Ninguém nega a importância de certos filmes anteriores de Cacá ao dizer que foi depois de Joanna que vieram os maiores e melhores - Xica da Silva, Chuvas de Verão, Bye-Bye Brasil. À crise, ele respondeu com novas propostas - Dias Melhores Virão, Veja Esta Canção. Nunca parou de filmar. É um dos diretores brasileiros cuja obra se pauta tanto pela regularidade quanto pela coerência (e qualidade). O Maior Amor do Mundo é pela vida, e se a vida é de cinema, como diz o título de seu livro de memórias, esse amor também é pelo cinema. VIDA DE CINEMA Autor: Cacá DieguesEditora: Objetiva (678 págs., R$ 59,90; R$ 29,90 o e-book)

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