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Uma Mulher Contra Hitler estréia no Brasil

Julia Jentsch recebeu o prêmio de melhor atriz no Festival de Berlim do ano passado pela atuação no longa de Marc Rothemund

Por Agencia Estado
Atualização:

Pelo segundo ano consecutivo, uma atriz alemã foi considerada a melhor do Festival de Berlim. Este ano, a vencedora foi Sandra Hüller, por Réquiem, de Hans-Christian Schmid, baseado na história real de uma garota convencida pela família de que está possuída pelo Demônio e que morre durante o exorcismo. Réquiem ganhou o prêmio da crítica, exagero que o júri presidido por Charlotte Rampling compensou, ao premiar o que o filme tem de bom - a atriz. Sandra pode ser ótima, mas não é melhor do que Julia Jentsch, que recebeu o prêmio no ano passado, por seu papel em Sophie Scholl - Os Últimos Dias, de Marc Rothemund, que agora estréia no Brasil com o título de Uma Mulher contra Hitler. Julia é maravilhosa, mas o júri presidido por Roland Emmerich acertou ao dar ao filme outro Urso de Prata, o de melhor diretor para Rothemund. Uma Mulher contra Hitler não é a única aposta dos distribuidores e exibidores, que acreditam que existe um público que não quer saber de carnaval e está disposto a prestigiar um cinema de qualidade. Também estréia Capote, de Bennett Miller. Ambos são biografias, o que possibilita uma discussão interessante sobre como os cineastas abordam esse tipo de material. No intervalo entre a premiação de Julia e Rothmund e a estréia brasileira de Uma Mulher contra Hitler, houve, no ano passado A Queda, de Oliver Hirschbiegel, com Bruno Ganz na pele do Führer que vive suas últimas horas numa Berlim sob pesado bombardeio dos aliados. Hitler é visto pelos olhos da sua secretária, que, no final, reflete - ao assumir o cargo, ela tinha a mesma idade de Sophie Scholl e a outra preferiu arriscar a vida no combate da barbárie nazista. Em Berlim, este ano, o repórter do Estado tentou localizar Julia e Rothemund para esclarecer um fato - na abertura de A Queda, apresentam-se cinco candidatas ao cargo de secretária e uma delas, sem crédito, é Julia Jentsch (ou uma sósia), o que talvez sugira que, assim como a secretária poderia ter escolhido ser como Sophie, a própria Sophie também poderia ter sido a secretária e não a trágica heroína que foi. Quem filmou primeiro? Quem quis armar essa confusão no público? Nem Julia nem Rothemund foram encontrados, mas, no ano passado, eles disseram ao repórter do Estado que o que mais queriam evitar era o rótulo de heroína atribuível a Sophie. O herói e a heroína têm sempre uma qualidade sobre-humana e o que eles queriam realçar era justamente a humanidade da garota que preferiu morrer pelo que acreditava a viver sob uma ordem que abominava. Face à ameaça do neonazismo na Alemanha, principalmente na antiga Alemanha Oriental - a parte comunista, cuja juventude é menos aparelhada para competir no mercado de trabalho -, a volta a Sophie Scholl desencadeou um debate muito rico no país. Filhos de uma família protestante, Sophie e o irmão foram presos em Colônia, acusados de alta traição, por distribuir panfletos contra o regime nazista. O julgamento foi uma farsa e Sophie foi executada em 1943, aos 22 anos. Antes de morrer, vaticinou que o Reich programado para ter mil anos seria destruído em seguida. O filme de Rothemund concentra-se nos últimos dias de Sophie, na sua altiva resistência à banalidade do mal (o nazismo). O diretor admite que viu O Processo de Joana d´Arc, de Robert Bresson. Não foi propriamente um modelo, porque Bresson, o cineasta da tela branca, filmou o julgamento de uma santa, usando atores não profissionais para discutir a Graça. Não é o que interessa a Rothemund. O rigor e o despojamento lhe servem, mas ele precisa de uma profissional, uma grande atriz, para construir a convicção de Sophie, a forma como ela faz da palavra uma arma contra o horror. A farsa da Justiça a serviço do poder é a mesma que Michael Winterbottom denuncia em Road to Guantanamo, premiado este ano em Berlim, sobre a base em Cuba que os americanos transformaram em campo de prisioneiros suspeitos de terrorismo. O foco de Rothemund é em Sophie Scholl. Seu rosto concentra a luz. Julia Jentsch disse que teve de buscar dentro dela, no seu inconsciente, a força para encarnar essa guerreira tão jovem. "Foi emocionante", disse. Pode ter sido, mas a emoção maior é dos espectadores. Uma Mulher contra Hitler (Alem/2005, 117 min.). Drama. Dir. Marc Rothemund. 14 anos. Cineclube Vitrine 1 - 14h, 16h30, 19h, 21h30. Reserva Cultural 2 - 14h20, 16h50, 19h20, 21h50. Unibanco Arteplex 7 - 14h10, 16h40, 19h10, 21h40 (sáb. também 0h). Cotação: Ótimo

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