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Um belo estudo sobre solidão, morte e reconciliação, em 'Frantz', de Ozon

Filme tem também esse élan das histórias de busca, numa época em que não bastava ir ao Google ou ao Facebook

Foto do author Luiz Zanin Oricchio
Por Luiz Zanin Oricchio
Atualização:
Cena do filme 'Frantz', de François Ozon Foto: Califórnia Filmes

Frantz, de François Ozon, não se define como drama de guerra, mas como um filme sobre o que acontece depois e suas consequência humanas. Mostra uma situação inicial, a garota Anna (Paula Beer), de uma pequena cidade do interior da Alemanha, que leva flores ao túmulo do noivo, morto numa trincheira da 1.ª Guerra. Não é à toa o fato de o filme levar o nome do morto, Frantz. Sua ausência estará presente em todas as fases da história, à maneira dos mortos que não se deixam enterrar e cuja memória determina a vida dos que os sobrevivem.  De tal forma que, quando sabe que um estrangeiro também deposita flores no túmulo do noivo, não pode deixar de sentir curiosidade e tenta se aproximar do rapaz. Ele é o francês Adrien Rivoire (Peter Niney), que também lutou na guerra e conta que antes do começo do conflito conhecera Frantz em Paris, onde se tornaram amigos. Passeavam pela cidade e iam muito ao Louvre ver pinturas. O rapaz conta essas histórias e, vencendo uma resistência inicial, aproxima-se também do pai e da mãe de Frantz, o médico Doktor Hans (Ernest Stötzner) e a mãe, Magda (Maria Gruber). O casal, ao ouvir as histórias pela boca do amigo sente como se o filho revivesse um pouco.  O filme é de grande delicadeza e avança alternando preto e branco e cores, conforme o estado de espírito do momento. A serenidade com que é conduzido confirma a capacidade de Ozon de passear por vários gêneros sem perder a mão. Do thriller sensual de Swimming Pool à comédia com Potiche, passando pelo musical com Oito Mulheres e agora com esse sólido drama sobre a solidão e a culpa, Ozon continua a se mostrar o cineasta maduro de sempre.  Cabe dizer que Frantz inspira-se em Não Matarás, um filme de 1932 de Ernst Lubitsch. Não se pode dizer que seja uma refilmagem, pois introduz mudanças substanciais de estilo e roteiro. Entre elas, a principal, o deslocamento do polo narrativo para a personagem feminina, Anna (que ganhou o Prêmio Marcello Mastroianni para estreantes no Festival de Veneza). A história se divide em uma primeira parte, passada na Alemanha, e uma segunda, na França, para onde a personagem segue à procura de um desaparecido Adrien.  Frantz tem também esse élan das histórias de busca, numa época em que não bastava ir ao Google ou ao Facebook para descobrir o paradeiro de alguém. Mas é, acima de tudo, um belo e terno estudo sobre a solidão, a morte e a reconciliação. 

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