Sandrine Kiberlain e Albert Dupontel estão em 'Uma Juíza Sem Juízo'

Longa recebeu seis indicações ao prêmio francês César

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Por Luiz Carlos Merten
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Em fevereiro, em Berlim, Sandrine Kiberlain estava feliz da vida por, enfim, integrar o planeta Alain Resnais. Admiradora do diretor, ela interpreta um dos principais papéis de Amar, Beber, Cantar. "Alain é uma figura seminal da história do cinema, mas é, acima de tudo, um grande ser humano. Ele ama o que faz e torna todas aquelas elucubrações intelectuais perfeitamente acessíveis e orgânicas. E é um ladies man. Adora as mulheres e faz com que a gente se sinta admirada, desejada. Já me prometeu que vamos filmar mais vezes juntos." Infelizmente, o desejo de Sandrine não pôde ser realizado porque Resnais, ausente da Berlinale presumivelmente para se poupar do frio, na verdade não estava muito bem em Paris. Morreu em 1.º de março, dias depois. A atriz também falou de Uma Juíza Sem Juízo, de Albert Dupontel, que integrou o Festival Varilux (e estreou ontem). Fez uma observação que não deixa de ser interessante. "Albert vai na contramão de Resnais, mas só na aparência. Tem aquele jeito bruto, grosseiro, mas assim como Alain (Resnais) já tem o filme na cabeça e não desperdiça tempo nem dinheiro com cenas que não são usadas, Albert sabe que o humor, para funcionar, precisa de timing. Nunca havia entrado dessa forma no mecanismo do riso. É tudo muito preciso, muito elaborado." Naquele momento, Sandrine Kiberlain também não sabia que, numa questão de dias, seria a grande vencedora do César, o Oscar francês de melhor atriz, justamente por seu papel em Uma Juíza sem Juízo. Os prêmios de interpretação para comédias não são frequentes. Todo mundo prefere - críticos, os próprios atores- preferem destacar o drama, como se fosse mais nobre, ou difícil. Os franceses este ano radicalizaram e este ano outorgaram os prêmios de melhor ator e atriz a intérpretes de comédias. Além de Sandrine, venceu o Guillaume Galienne de Eu, Mamãe e os Meninos, que ele próprio (Guillaume) dirigiu. Mais um motivo, portanto, para que o público prestigie a 'juíza'. O cinema, e o norte-americano tem sido pródigo, faz muitas comédias com cenas em tribunais, mas nenhuma, como a de Dupontel, remete ao próprio funcionamento da Justiça. Na França, Uma Juíza Sem Juízo chegou a ser definido como a versão surreal de um documentário de Raymond Depardon (Instantes de Audiência). Dupontel acredita no humor cartunesco, direto, à Tex Avery, o criador dos Looney Tunes. Humor negro, sem muita (ou nenhuma) sofisticação, certeira crítica social. No novo longa, Sandrine Kiberlain faz uma juíza conhecida por seus julgamentos severos e pelo comportamento ilibado. O surpreendente é que, ao aparecer grávida, não sabe como chegou a esse estado.

A própria juíza comanda uma investigação e descobre, pelo DNA, que o pai da criança está preso como perigoso agressor. É Dupontel, com sua verve, sua provocação. Sandrine é o oposto, mas a rigidez é desmontada pela sequência dos acontecimentos. O filme é o duo de atores - Dupontel, palhaço, como sempre; Sandrine, deslocada. É como se perguntasse 'o que faço aqui?'. Vem daí o estranhamento que desencadeia o riso. De novo, Dupontel trabalha no registro do insólito. Em Bernie, de 2011, já fazia um órfão de 30 anos que se envolvia em confusões ao procurar os pais biológicos. Juíza não deixa de dar sequência àquele humor. Como prova do prestígio do diretor, Terry 'Monty Python' Gilliam e Jean 'O Artista' Dujardin fazem pequenos papéis. O primeiro é particularmente divertido como um psicopata. UMA JUÍZA SEM JUÍZOTítulo original: 9 Mois Ferme. Direção: Albert Dupontel. Gênero: Comédia (França/2013, 82 min.). Classificação: 14 anos. 

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