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Robert De Niro conta sobre o desafio de fazer comédia em filme com Anne Hathaway

'Um Senhor Estagiário' traz um veterano que muda a vida da chefe

Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Look and learn, boys – Anne Hathaway repetiu em diferentes mesas, durante as entrevistas de Um Senhor Estagiário/The Intern, em Nova York. Olhem e aprendam: “Isso é que é ser cool”. Quem dava as lições era o veterano Robert De Niro. Aos 72 anos, que acaba de completar, Bob segue em plena forma, e com disposição para fazer rir de si mesmo. Um Senhor Estagiário é a prova.

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A comédia de Nancy Meyers estreia quinta-feira, 24. De Niro faz um viúvo aposentado que não aguenta mais a solidão – a inutilidade de uma vida sem trabalho – e volta à ativa, no posto de ‘intern’ na firma de design de moda de Anne. Nancy é diretora e roteirista. Anne, agora em posição de poder, flerta com a personagem de Meryl Streep em O Diabo Veste Prada. E De Niro tem sua cena ‘You talking to me?’.

Todo cinéfilo lembra-se. Há 40 anos, como Travis, o motorista de táxi de Martin Scorsese, De Niro foi para a frente do espelho e repetiu, incontáveis vezes, aquela única frase – “Você está falando comigo?”. Agora, septuagenário, ele não fala de forma agressiva, mas ensaia os diálogos mais gentis de um estagiário sênior. Na sessão de imprensa de Um Senhor Estagiário, a plateia riu muito, fazendo a associação, até óbvia, com o clássico Taxi Driver.

Cena do filme Um Senhor Estagiário, de Nancy Meyers, com Robert De Niro e Anne Hathaway. FOTO: DIVULGAÇÃO Foto: DIVULGAÇÃO

Como foi para De Niro revisitar um de seus primeiros (e maiores) sucessos? “Estava escrito no roteiro. Nancy (Meyers) pediu e eu fiz.” Simples, assim? “É divertido fazer uma cena dessas. Melhor que um prêmio. O prêmio de carreira só se dá a quem está se despedindo, ou a quem queremos aposentar. Meu personagem está voltando. É bom, como você diz, que eu me revisite.”

Como anda a saúde, Bob? Supersticioso, De Niro olha para os lados procurando uma madeira. Faz toc-toc e responde. “Tudo sob controle. Ainda tenho chão para mais algumas comédias.” Um mito, uma instituição da arte de representar como De Niro, poderia não ter mais paciência de participar desses encontros com jornalistas. De Niro tem.

É inesperadamente simpático. Look and learn, boys. O velhinho é cool. “Só tenho de agradecer por ter tido essa grande carreira. Posso ter algum mérito pessoal, como ator, mas foram os encontros que me permitiram avançar. Brian (De Palma) me chamou para um papel em A Festa de Casamento/The Wedding Party, que só estreou muito depois, mas ele me apresentou para Marty (Scorsese), que me abriu a porta para Francis (Ford Coppola). Em 1974, eu já estava ganhando o Oscar (de coadjuvante, por O Poderoso Chefão – Segunda Parte). Marty me chamou para todos aqueles filmes. Éramos jovens, cheios de entusiasmo, querendo mostrar que tínhamos talento. Nenhuma carreira se faz sozinha. Só tenho de agradecer a esses múltiplos encontros.”

Consagrado como ator de drama, De Niro um dia descobriu a comédia e tomou gosto. “O humor talvez seja até mais difícil. Tem um tempo preciso. Mas o importante é não exagerar. No caso de Um Senhor Estagiário, já estava tudo no roteiro de Nancy. Era só seguir as linhas e deixar que as coisas acontecessem.” E Anne (Hathaway)? “É adorável. O que mais você quer que eu diga. É focada durante as cenas e divertida nos intervalos. Passamos bons momentos no set.” O personagem de De Niro é quase uma fantasia hollywoodiana. O idoso descolado, que muda a vida de todo o mundo no escritório. 

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Não demora muito e ele está interferindo na vida privada da chefa. Bancando o babá, cuidando da filha dela, agindo como conselheiro sentimental. E quando Rene Russo lhe faz aquela massagem, o velhinho ressuscita. A ereção é instantânea. “Tudo ocorre naturalmente no filme. Nancy tem esse olhar para as coisas simples e verdadeiras. Uma cena dessas, anos atrás, seria impensável. Hoje nem sei porque estamos falando dela. É só parte da vida. Me agrada que tenha sido escrita e filmada por uma mulher.”

O assunto ‘mercado de trabalho’ está na essência do filme. “Conversei há pouco com uma jornalista japonesa que me passou um dado interessante que revela a diferença cultural. No Japão, os funcionários mais velhos não só são respeitados como senseis (mestres), como ganham mais. No Ocidente, infelizmente, não é assim. Nós, velhos, vamos sendo escanteados.” Até você, De Niro? “Não me queixo. Ainda me oferecem bons papéis. Nancy e David (O. Russell) dizem que escrevem para mim. Tenho um ótimo papel no novo filme dele, Joy. Mas, você sabe, Bobby não é caro. Ganho decentemente, mas nenhuma fortuna. O importante é o prazer do trabalho, os encontros no set. Existem momentos de euforia no set que você pensa – ‘Isso aqui não tem preço’. E não tem mesmo. O dia em que não funcionar mais assim para mim, eu paro.”

Sobre o Tribeca Festival, ele lembra que foi um dos fundadores do evento, em 2002. “Queríamos homenagear as vítimas do 11 de Setembro e os mortos do bairro de Tribeca, em Manhattan. A ideia era combater o ódio com a arma do cinema, que pode ser um maravilhoso instrumento de compreensão e entendimento do outro. Nosso festival cresceu e hoje é considerado um dos maiores do mundo, dentro do espírito de pluralidade e diversidade com que nasceu.”

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