LISBOA - Visita ou memórias e confissões, documentário póstumo do cineasta Manoel de Oliveira, estreia hoje em Porto, sua terra natal. O português morreu no dia 2 de abril deste ano, aos 106 anos.
O material havia sido roubado em 1982, quando Oliveira tinha 74 anos, e permaneceu durante mais de 30 anos no acervo da Filmoteca portuguesa, em Lisboa, sob a condição de que só seria exibido depois de sua morte. O documentário, que será exibido no Teatro Municipal de Tivoli, foi gravado na casa onde Oliveira viveu, em Ponto, durante mais de 40 anos.
Trata-se de um filme intimista que dialoga sobre as lembranças do cineasta, destacando sua experiência na prisão nos anos 1960, durante a ditadura salazarista. O documentário também aborda sua relação com seus antepassados, com as mulheres e reflexões sobre a morte e o sofrimento.
Com pouco mais de uma hora, o filme é dedicado a sua mulher, Maria Isabel, e conta com diálogos escritos pela portuguesa Agustina Bessa-Luís e interpretados pelos atores Diogo Dória e Teresa Madruga.
Depois do Porto, Visita ou memórias e confissões será exibido em Lisboa, na Filmoteca portuguesa, e no Festival de Cannes, na França.
Manoel de Oliveira (1908-2015) era uma das figuras culturais mais icônicas de Portugal desde a morte do prêmio Nobel José Saramago, em 2010. Cineasta muito apreciado nos ambientes intelectuais da França e do Brasil, Oliveira dirigiu mais de 60 filmes ao longo de oito décadas, durante as quais foi premiado nos prestigiosos festivais de Veneza (1985), Cannes (2008) e Berlim (2009).
Até sua morte, era considerado o mais realizador mais velho do mundo em atividade, com uma carreira que iniciou no cinema mudo com Douro, Faina Fluvial, em 1931. Com aversão aos excessos de efeitos especiais e sonoros, sua obra é considerada uma legado que preserva a memória do século XX.