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'Piripkura', a saga dos índios ameaçados de extermínio

Longa do trio Mariana Oliva, Renata Terra e Bruno Jorge é um marco por sua beleza e complexidade

Por Luiz Carlos Merten
Atualização:
Os piripkuras e Jair Candor, da Funai Foto: Bruno Jorge

No ano passado, Piripkura venceu o prêmio de melhor documentário no Festival do Rio. Desde então, tem circulado pelo mundo. Foi premiado no importante festival de documentários de Amsterdã e, nas próximas semanas, a equipe volta à Holanda, para o Festival da Anistia Internacional em Haia. Movies that Matters, Filmes Que Fazem a Diferença.

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A Anistia vai homenagear pessoas que estão fazendo a diferença no mundo, por sua luta por direitos humanos e civis. Jair Candor, da Funai, está entre os oito homenageados deste ano.

Tem havido muitos filmes sobre índios, no Brasil, recentemente. Documentários como Martírio, de Vincent Carelli, que provocou comoção, e Ex-Pagé, de Luiz Bolognesi, que foi premiado no recente Festival de Berlim e integra a seleção anunciada do É Tudo Verdade de 2018.

+++ Pakyi, Tamandua e o mistério de Piripkura

Não apenas documentários, a ficção Antes o Tempo não Acabava. Piripkura também é ficção, mas situa-se num registro especial. Tem algo de mágico. Tizuka Yamasaki bem que tentou em Encantados, mas se existe encantamento é em Piripkura.

Mariana Oliva é uma das diretoras, com Renata Terra e Bruno Jorge. Ela conta o começo de tudo. “Foi em 2013. A Funai promovia um workshop sobre monitoramento e proteção do território dos índios. O Jair era um dos ministrantes (do curso). Foi quando ouvimos falar pela primeira vez dos piripkuras, ameaçados de extermínio. Uma das últimas descendentes casara-se, havia aprendido um pouco de português e morava em Rondônia. E havia também Pakyi e Tamandua, que há 30 anos viviam num exílio voluntário na floresta, fugindo dos homens brancos.”

O mais estranho de tudo – disputado por grileiros e madeireiras, o território dos piripkuras não foi delimitado, mas criou-se outra figura de posse. A interdição de área. A cada dois ou três anos, a Funai precisa provar que eles estão vivos, para continuar tendo direito às terras.

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“Estávamos em contato com o Jair e ele informou que o prazo estava se esgotando. Sua intenção era se meter na floresta, mas tinha de ser uma coisa bem pequena. Formamos uma microequipe para ir com ele. O diretor de fotografia, o produtor de campo. É uma dessas coisas mágicas do cinema. Produziu-se o encontro. De repente, Pakyi e Tamandua estavam ali, vivos, de carne e osso, diante da câmera de Bruno Jorge. Foi um material tão incrível que lhe demos (a Jorge) crédito de direção.”

Tendo vivido no isolamento por tanto tempo, Pakyi e Tamandua falam uma língua que é deles. São muito ternos, afetivos, entre eles. Parecem frágeis – dois indiozinhos minúsculos, nus. Possuem uma força toda deles. Carregam uma chama, a dos piripkuras, que é preciso manter acesa.”

Há um filme cultuado de Andrea Tonacci, Serras da Desordem, sobre outro índio errante, solitário. Carapiru fala uma língua dele, que o diretor não traduz. O filme é sobre o isolamento do próprio Tonacci como artista, mas de alguma forma ele está ali manipulando Carapiru. Aqui, há grande respeito por Pakyi e Tamandua. Muito pouco do que dizem é traduzido, mas de alguma forma nós, o público, entendemos tudo. O desfecho é um dos mais belos da história do cinema brasileiro. 

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