'O Signo da Cidade' revela histórias do cotidiano de SP

Fio condutor do filme é Teca (Bruna Lombardi), uma astróloga radialista que escuta e aconselha seus ouvintes

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Por Neusa Barbosa e da Reuters
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A cidade de São Paulo é uma personagem, ainda que não a principal nem a maior, do filme O Signo da Cidade, em que a atriz Bruna Lombardi demonstra uma sensível evolução como roteirista. Veja também: Trailer de 'O Signo da Cidade' O Signo da Cidade, segundo Bruna Lombardi e Carlos Alberto Riccelli  Ela arma um caleidoscópio em que brilham as luzes individuais de muitas pessoas, que formam a constelação frenética de uma das maiores metrópoles do mundo. O olho fino de Bruna encontra, entre as fibras endurecidas da cidade-gigante, sinais de uma vida miúda, a das emoções básicas de todo mundo. Por isso, a história de Bruna, dirigida pelo marido Carlos Alberto Riccelli, é também universal. O filme é feliz nessa fusão do que é pequeno e grande, do particular e do geral, porque se ampara num ritmo suave, que dá tempo para que várias histórias se revelem. O fio condutor está nas mãos da astróloga Teca (a própria Bruna), que tem um programa de rádio. Teca acolhe, escuta, dá conselhos. E testa os limites de seus pequenos poderes. Nem sempre a astróloga dá conta de melhorar essas vidas, e nem mesmo a sua própria anda tão bem. Magoada pela separação recente, ela se envolve na vida dos vizinhos, o atraente Gil (Malvino Salvador) e sua mulher (Denise Fraga), que também estão em crise. Com o próprio pai (Juca de Oliveira), Teca vive um dilema bem mais forte e antigo. A amiga de sua mãe que morreu, que ela sempre viu como uma espécie de tia, tem um segredo para lhe contar. O mundo lá fora anda pesado. Há racismo, como o vivido tanto pelo enfermeiro Sombra (Luís Miranda) e o travesti Josialdo (Sidney Santiago). E há a inadequação, como o emo Biô (Bethito Tavares), mergulhado nas baladas em busca de diversão e amor. É a mesma busca, aliás, de Mônica (Graziella Moretto), a divertida assistente da astróloga, que se envolve com um malandro (Fernando Alves Pinto). A chave da história é essa dor humana que não se pode evitar, por mais remédios que se procurem. A astróloga não tem a pretensão de ser mágica. Muito pelo contrário. Ela tem total consciência de suas limitações esotéricas e busca ajudar as pessoas dentro dos limites mais concretos, como o da solidariedade. Desse ponto de vista, emanam momentos bonitos entre pessoas perdidas, como Gabriel (o estreante Kim Riccelli, filho de Bruna e Carlos Alberto) e Júlia (Laís Marques). O Signo da Cidade apóia-se numa dramaturgia crível, nenhuma demagogia e um legítimo interesse pelo ser humano. Tudo isso é coroado pela direção e câmera sutis (ótima direção de fotografia de Marcelo Trotta), que revelam uma São Paulo dúbia e generosa.

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