'O Prefeito' mostra o sonho de separar o Rio do Brasil

Sátira de Bruno Safadi é o segundo longa na competição do Cine PE

PUBLICIDADE

Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

RECIFE - Na segunda noite do Cine PE, terça-feira, 3, o curta mais curta da programação, O Imperador da Pedra do Reino, de Houldine Nascimento e Wanderley Andrade, conseguiu dar conta, em sucintos 13 minutos, da vida e obra de um grande, Ariano Suassuna. Não é pouca coisa. Os demais curtas compuseram um panorama da diversidade que o Cine PE se esforça para retratar. Minha Geladeira Pensa Que É Um Freezer, de Pablo Polo, também na mostra Pernambuco, cria um retrato de família que subverte pelo fantástico anunciado no título. Ou a parte realista é melhor, ou as duas não casam bem, mas o ator, Bruno Goya, é ótimo.

Do Espírito Santo, veio na competição nacional um melodrama de cunho social, todo cantado, +1 Brasileiro, de Gustavo Moraes. Um motorista viúvo, atropelado pela crise, tenta levantar o dinheiro para pagar o figurino do espetáculo de dança da filha. O canto é triste, duro, a encenação musical – uma coreografia de carros – é melhor que a de Sinfonia da Necrópole, de Juliana Rojas, em cartaz nos cinemas. No desfecho, a canção vira de esperança – ao contrário do curta que encerrou a noite na categoria competição nacional. This Is Not a Song of Hope, de Daniel Aragão, tem seus méritos, mas talvez tenha sido o mais fraco da noite com seus personagens (uma arquiteta estrangeira, uma atriz e um músico locais) que vivem uma relação de amor e ódio com a cidade do Recife.

O segundo longa da competição foi mais interessante que o primeiro, na segunda, 2 (Por Trás do Céu). O Prefeito, de Bruno Safadi, mostra um personagem que quer ser maior que a vida. Interpretado por Nizo Neto, o prefeito sonha entrar para a história separando o Rio do Brasil. Safadi filmou nas ruínas da cidade que se transforma (será?) para a Olimpíada. Sua trilha sonora é a britadeira que está destruindo tudo, alternada com músicas de um Rio idealizado (de Tom Jobim a Radamés Gnatalli). O tom é de sátira e boa parte do relato é levada por meio de fotos, com certeza para questionar, no imaginário do público, o conceito da Cidade Maravilhosa dos cartões-postais.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.