Antes de se consagrar como escritor, John Le Carré atuou no serviço secreto britânico nos anos 50 e 60. Isso explica o realismo de seus romances de espionagem, muito distantes do estilo extravagante de 007, eternizado por Ian Fleming. Foi essa caracterização sutil e mais psicológica dos personagens de Le Carré que instigou o cineasta sueco Tomas Alfredson a levar às telas o livro O Espião Que Sabia Demais, num filme de agente secreto atípico - sem perseguições, tiroteios ou explosões espetaculares. "Gostei da ideia de subverter o gênero, filmando em ritmo lento e deixando a ação se passar apenas na cabeça dos personagens", diz o diretor, mais conhecido pelo terror Deixa Ela Entrar (2008). Com estreia hoje nos cinemas brasileiros, O Espião Que Sabia Demais é um dos favoritos este ano ao Bafta, na categoria de filme britânico. O Oscar inglês terá suas indicações anunciadas no dia 17, em Londres. Até então o livro de Le Carré, publicado em 1974, só tinha inspirado uma série de TV da BBC, em 1979, e duas dramatizações na rádio BBC, em 1988 e 2009. "A obra torna o universo da espionagem acessível, fugindo da ideia do glamour, das locações exóticas e das belas mulheres. Diferentemente dos filmes de James Bond ou de Jason Bourne, ninguém termina de ler o livro ou sai da sala de cinema desejando ser agente secreto", conta Alfredson.A trama é ambientada em 1973, durante a paranoia da Guerra Fria. O chefe do MI6 (John Hurt) é forçado a deixar o serviço de inteligência, assim que uma missão na Bulgária termina mal. Diante da suspeita de um soviético infiltrado no MI6, um espião aposentado, George Smiley (Gary Oldman), é encarregado de descobrir quem é o agente duplo. A lista de suspeitos inclui homens de confiança do governo, como o elegante Bill Haydon (Colin Firth), o burocrata Percy Alleline (Toby Jones) e o ambicioso Toby Esterhase (David Dencik).