'No Olho do Tornado' faz diretor lembrar da infância

Assim como no filme, Steven Quale teve muitas vezes que se refugiar no porão para sobreviver

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Por Elaine Guerini
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LAS VEGAS - Assim que terminou No Olho do Tornado, já em cartaz no Brasil, Steven Quale projetou o thriller de suspense primeiramente para o amigo James Cameron, de quem foi diretor assistente em Avatar (2009) e Titanic (1997). "Foi com Jim que eu aprendi a arte do filme espetáculo. Ele é mestre em usar igualmente os dois lados do cérebro, dando o mesmo peso ao desenvolvimento da trama e ao aspecto técnico", disse o cineasta norte-americano, à frente de seu segundo longa de ficção - depois de Premonição 5 (2011). Foi esse equilíbrio entre história e efeitos especiais que Quale buscou em No Olho do Tornado, um dos principais lançamentos da Warner para o verão americano. Mas diferentemente de Cameron, que teria elogiado o filme assinado pelo discípulo, Quale procurou se distanciar da abordagem tipicamente hollywoodiana, na qual a jornada dos personagens ganha proporção épica, pouco importando o grau de realismo das cenas.

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"Não fiz um novo

Twister

(filme realizado pelo holandês Jan de Bont em 1996), que me incomodou por demonstrar certo prazer em retratar o desastre'', afirmou o cineasta. Embora sua obra também seja de ficção, sua proposta foi reproduzir o espírito e o formato dos documentários sobre tornados. "Nossas câmeras os capturaram respeitosamente do jeito que eles são, como uma manifestação violenta da natureza'', explicou.

Para explorar a sensação de estar no centro de um redemoinho atmosférico (como sugere o título), o diretor resgatou suas terríveis memórias de infância e "emprestou'' experiências de alguns amigos que tiveram suas casas destruídas na cidadezinha onde ele nasceu e cresceu, Sun Prairie, no Estado de Wisconsin - região do Meio Oeste americano frequentemente varrida por tornados.

Porão.

"Cresci me escondendo de tornados no porão de casa, com a minha família. Passávamos dias confinados, ouvindo aquela sirene. É algo tão assustador que marca as lembranças de uma criança para sempre", revelou ainda Quale.

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A trama é contada do ponto de vista de caçadores profissionais de tornados, como o pesquisador Pete (Matt Walsh), que lidera o grupo de cientistas, e a meteorologista Allison Stone (Sarah Wayne Callies). Há ainda a perspectiva de pessoas comuns que se deparam com esse fenômeno meteorológico de poder devastador, como Gary (Richard Armitage), o diretor do colégio de Silverton, pacata cidade de Oklahoma onde a história é ambientada.

"Ressaltamos tanto a humanidade, que sempre nasce nas pessoas às voltas com calamidades naturais, quanto o aspecto de aventura, o que explica por que os tornados fascinam tanto o homem. Há sempre uma curiosidade perversa que nos instiga a querer saber como seria ver uma catástrofe de perto", disse o diretor.

Para reproduzir nas telas a violência dos tornados, que se manifestam de várias formas e dimensões, Quale recorreu a diversas produtoras de efeitos digitais, encarregando-as de copiar as imagens de arquivo de tempestades reais. "Nenhum dos nossos tornados é fruto da imaginação. Para cada um deles, os especialistas tinham uma referência autêntica, que podia ser cena extraída de documentário do Discovery Channel ou imagem registrada por amadores no YouTube", ressaltou.

A escolha da captura das cenas com a câmera na mão ajudou a reforçar o tom mais realista da aventura. Mas não há exageros, com imagens trepidantes ou movimentos bruscos de zoom in e out.

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"Por mais que seja sempre uma tentação usar uma grua (sistema de guindaste que permite uma complexidade de movimentos de câmera), levar o equipamento no ombro fez com que as cenas fluíssem de forma mais orgânica. O estilo foi o que melhor traduziu a história, embora fosse menos cinematográfico, para desespero do diretor de fotografia (Brian Pearson)", recordou o diretor.

Quem mais pagou o preço pela autenticidade buscada por Quale foi o elenco. Os atores tiveram de suportar ventiladores gigantes que os perseguiam por toda a parte. "Aquela sensação que temos quando colocamos a cabeça para fora do carro numa via expressa representa apenas metade da velocidade do vento que soprava no rosto deles. Ao adicionar a chuva a esse cenário, tudo piorou, pois as gotas de água batiam na pele como se fossem agulhas perfurando", acrescentou o cineasta.

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