No Festival do Rio, Première Brasil começa discutindo os gêneros

O masculino, o feminino e o universo transgênero ganham a tela em obras fortes; evento também apresenta os vencedores de Cannes

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Por Luiz Carlos Merten
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RIO - E o Festival do Rio fez, neste fim de semana, uma espécie de súmula do Festival de Cannes, exibindo os grandes vencedores deste ano – Eu, Daniel Blake, de Ken Loach, ganhou o prêmio do júri, a cobiçada Palma de Ouro, e Toni Erdmann, de Maren Ade, o Prêmio Fipresci, da crítica. Uma crítica veemente ao mundo das economias globais, baseado na competitividade e na exclusão social, e uma intensa relação entre pai e filha justamente para também criticar o estado do mundo. A filha competitiva está se transformando en uma máquina e aí entra o pai para ministrar-lhe um tratamento humanitário de choque.

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O Rio é pródigo em mostras – são quase 20 seções, incluindo o Panorama do Cinema Mundial, onde passaram os dois filmes citados –, mas a menina dos olhos é a Première Brasil, iniciada na sexta-feira, 7. Pelo menos nesse comecinho, a Première tem apresentado uma estimulante discussão de gênero, que começou com Vermelho Russo. O longa de Charly Braun, escrito pela atriz Martha Nowill, conta a história de duas amigas atrizes (Martha e Maria Manoella) que embarcam para a Rússia. Estão em crise, insatisfeitas com a vida e as respectivas carreiras. Resolvem se reciclar, aprofundando-se no método Stanislawski de interpretação.

Nos limites da ficção e do documentário, o filme discute o feminino por meio de uma história de amizade. Possui interessantes similaridades com A Cidade Onde Envelheço, de Marília Rocha, que venceu o recente Festival de Brasília. Se Vermelho Russo vê o mundo do ângulo das mulheres, Redemoinho, de José Luiz Villamarim, o faz do ângulo dos homens. Baseado em Luiz Ruffato, o filme é sobre o reencontro de dois amigos. Um ficou em Cataguases, interior de Minas, outro foi tentar as vida em São Paulo e agora volta, para o Natal. Descarte logo a amizade. Talvez cumplicidade – quando crianças, cometeram um crime que mudou muitas vidas (até as deles).

Culpa, e não apenas. O filme é muito bem realizado pelo diretor que está revolucionando a TV – Villamarim vem de um grande triunfo com Justiça e está no ar com Nada Será como Antes. E ainda houve Divinas Divas. A atriz Leandra Leal fez um documentário maravilhoso sobre a primeira geração de artistas travestis do Brasil. O universo transgênero nunca foi abordado dessa maneira. Lembram-se de Dzi Croquettes, o filme? Parecia bom – era bom. Não dá para a saída perto do admirável Divinas Divas.

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