Na fábula de ‘Meu Mundial’, jogar não basta para vencer

Longa uruguaio premiado em Gramado baseia-se em livro de Daniel Baldi, que jogou com Diego Lugano

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Por Luiz Carlos Merten
3 min de leitura
'Meu Mundial - Para Vencer Não Basta Jogar' conta a história deTito, um garoto de família modesta quechama a atenção de um olheiro que o leva para tentar fazer carreira num grande time em Montevidéu Foto: Bretz Filmes

Foi um reencontro de amigos. Daniel Baldi, autor do livro que inspirou Meu Mundial - Para Vencer Não Basta Jogar, recebeu o amigo Diego Lugano e ambos fizeram a apresentação do longa do uruguaio Carlos Andrés Morelli, na pré-estreia realizada na semana passada. Meu Mundial estreou nos cinemas nesta quinta, 19. E ainda havia um terceiro convidado no Arteplex Frei Caneca, o ator Néstor Guzzini, que venceu o prêmio de interpretação - o Kikito - na competição latina do Festival de Gramado do ano passado. Meu Mundial é um pequeno grande filme uruguaio. Uma história humana, narrada com simplicidade - e muito bem interpretada.

Tito, um garoto de família modesta, chama a atenção de um olheiro que o leva para tentar fazer carreira num grande time em Montevidéu. O jovem deslancha, mas a família, que o acompanha, desestrutura-se. O sonho de muitos garotos pobres ao redor do mundo é ganhar dinheiro com o futebol, mas para vencer não basta jogar. A moral da história - ambos filhos de professores, Daniel e Diego, o futuro zagueiro, hoje diretor de relações institucionais do São Paulo, já eram profissionais e continuavam estudando. Tinham a cabeça no lugar. Humanas, além do preparo físico. Um dia, se o futebol termina, é preciso estar preparado, ter uma alternativa.

Meu Mundial é sobre isso. Tito é bom de bola, mas não de matemática. Também tropeça na redação. O pai insiste para que ele estude, mas a promessa de uma nova vida na capital - casa, dinheiro no bolso, moto - mexe com a cabeça do garoto, na verdade, mexe com a família toda. Pai e filho brigam, ofendem-se. Cinema e futebol. Existem boas ficções sobre o tema - À Procura de Eric, de Ken Loach; Boleiros, de Ugo Giorgetti -, mas os documentários são melhores ainda. Garrincha, Alegria do Povo, de Joaquim Pedro de Andrade, fez história nos idos do Cinema Novo. Nos 2000, surgiram o experimental e ensaístico Zidane - A 21st Century Portrait, de Douglas Gordon e Philippe Perrano, e Maradona por Kusturica, que irrita torcedores brasileiros porque Emir ousa defender que Diego, o baixinho argentino, seja o maior jogador do mundo. Os admiradores de Pelé revoltam-se, mas o personagem, Maradona, é complexo e fascinante (um homem político!) e o filme, um deslumbrante espetáculo de cinema (e futebol).

Talvez o problema seja como filmar o futebol. Como se encena uma jogada de craque, um golaço? Nem os próprios jogadores conseguem repetir seus melhores lances, que dirá atores, daí, muito provavelmente, o predomínio do documentário. Mas Meu Mundial é bom, é emocionante, é sincero. Néstor Guzzini entende o drama desse pai dilacerado. “Ele passa a andar a reboque do filho, desistindo de si mesmo e o garoto lhe joga na cara.” A alma do filme é Facundo Campelo, como Tito. “Se Andrés (o diretor) não tivesse encontrado um garoto como Facundo com sua simpatia, inocência e a fome de bola, não haveria filme”, avalia o ator.

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