Morre o diretor de fotografia Vilmos Zsigmond, o 'poeta da imagem'

Trabalhou com diretores como Robert Altman, Michael Cimino, Brian De Palma e Woody Allen

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Por Luiz Carlos Merten
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Aos 68 anos, em 1999, Vilmos Zsigmond ganhou o Life Achievement da Associação Norte-Americana de Cinematografistas. Em 2015, aos 84, foi a vez de o Festival de Cannes lhe outorgar um prêmio de carreira. Como parte da homenagem, foi exibido o documentário Laszlo & Vilmos – No Subtitles Necessary. Nos anos 1950, Vilmos Zsigmond e Laszlo Kovacks eram dois jovens formandos em Budapeste quando irrompeu o movimento popular de protesto contra a dominação soviética. A (então) URSS reprimiu o movimento com violência. Laszlo e Vilmos não apenas testemunharam os eventos com os filmaram. Hungarian Revolution in Budapest 1956 foi o passaporte de ambos, que fugiram para a Áustria e, dali, para os EUA. Na sexta-feira, 1º, Vilmos Zsigmond morreu em sua casa em Big Sur, na Califórnia. Tinha 85 anos e a causa da morte não foi divulgada. Ele nasceu em 30 de junho de 1930 em Budapeste, filho de um célebre jogador de futebol da época. Herdou o nome do pai (Vilmos) mas não o seu talento com a bola. Desde cedo Vilmos interessou-se pelo cinema. Cursou a Academia, mas, ao invés de tornar-se diretor, optou pela fotografia. Em 1962, tornou-se cidadão norte-americano. Estabeleceu-se em Los Angeles, foi técnico em laboratórios de imagem. E começou a fotografar filmes de baixo orçamento, nos quais, muitas vezes, era identificado com ‘William’ Zsigmond. Em 2003, a International Cinematographers Guild colocou-o na lista dos dez maiores e mais influentes diretores de fotografia de todos os tempos. 

Aos 85 anos, Vilmos Zsigmond morreu em sua casa em Big Sur, na Califórnia Foto: Tamas Kovacs/EPA/EFE

Foi em 1963, com The Sadist, que Zsigmond obteve seu primeiro crédito como diretor de fotografia em Hollywood. Ele seguiu fotografando nos anos seguintes, mas só em 1971 ganhou o crédito que mudou tudo em sua vida (e carreira). Naquele ano, fotografou McCabe & Mrs. Miller, western de Robert Altman que foi lançado no Brasil como Onde os Homens são Homens. Ninguém, em sã consciência, esperaria um western tradicional de Altman e o diretor de Mash não apenas filmou uma paisagem gelada como boa parte da ação se passa ‘indoors’, num bordel. Também em 1971, Peter Fonda chamou-o para fotografar Pistoleiro sem Destino. A lista de diretores importantes com quem trabalhou inclui Altman (de novo, Um Perigoso Adeus), Michael Cimino (O Franco Atirador e Portal do Paraíso), Brian De Palma ( Trágica Obsessão, Um Tiro na Noite), Woody Allen (Melinda Melinda, Você Vai Conhecer o Homem dos Seus Sonhos). Como diretor de fotografia, não apenas gostava de usar filtros como desenvolveu a técnica chamada de flashing ou pre-fogging. Basicamente, ela pode ser definida como a exposição do negativo a uma emissão controlada de luz que cria uma nova paleta de cores, além de dar textura à imagem. Por isso mesmo, muitos críticos – e diretores com quem trabalhou – o chamavam de ‘poeta da imagem’. Como seu amigo Laszlo Kovacks, que também fez carreira brilhante em Hollywood – fotografando B movies e, em 1969, dando o grande salto com Sem Destino, de Dennis Hopper –, Vilmos foi decisivo na deflagração daquilo que se chamou de ‘Nova Hollywood’. Ele próprio dizia que gostaria de ter ousado muito mais e reconhecia – quando se está do lado fraco da trincheira, como ele, em 1956, você carrega pela vida afora o desejo de mudar. Foi o que fez. Em 2012, com Yuri Neyman fundou o Global Cinematography Institute em Los Angeles, com o objetivo de educar e preparar profissionais de fotografia para cinema. Zsigmond sempre defendeu que a atividade exige conhecimento técnico e sensibilidade artística, e que essa também precisa ser continuamente aprimorada.

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