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Longa 'Meu Avô Allende' fala da intimidade do político

Dirigido pela neta do presidente chileno deposto pelo golpe militar em 1973, filme concentra-se na vida familiar do líder. Veja o trailer

Foto do author Luiz Zanin Oricchio
Por Luiz Zanin Oricchio
Atualização:

Allende - Meu Avô Allende. Como o título já indica, estamos aqui mais no domínio familiar que no político, embora este seja inevitável, em razão do personagem. O doc, que passa nesta quarta, 13, no Centro Cultural São Paulo, às 18h, é dirigido por Marcia Tambutti Allende, neta do presidente da União Popular, derrubado por um golpe civil-militar em 11 de setembro de 1973. 

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De acordo com Marcia, um bebê na época em que Allende morreu, rios de tinta, florestas de papel, além de incontáveis gigabytes na internet, se dedicaram a esmiuçar a carreira política de seu avô, eleito presidente do Chile por uma união de esquerdas em 1970. Ninguém se havia ocupado de retratá-lo como pessoa. Acontece com frequência com as pessoas públicas - seu lado doméstico é negligenciado em favor da vida pública, e não há mal nisso, pois o que realmente importa a todos é sua trajetória no campo social e sob a luz da História. Mas subsiste esse recôndito da intimidade, no qual todas as pessoas se parecem, embora uma não seja igual à outra. E, nesse aspecto, o mais poderoso dos chefes de Estado se equipara ao modesto cidadão comum. 

Daí a ideia de Marcia de aproximar-se da memória do avô pelo álbum de fotos da família e de alguns filmes domésticos que o mostram brincando com os netos ou fazendo um brinde. São velhos registros que, como todas as fotos antigas se revestem de uma pátina de mistério e significados ocultos. Quem seria essa pessoa ao lado do vovô? Quem é essa criança na mesa?

Márcia conversa muito com a avó Hortência Bussi, viúva de Allende, já fragilizada pela idade. Ela morreu em 2009. Hortência teve presença destacada na campanha de Allende e como primeira-dama. Dias depois da morte do marido (Allende suicidou-se durante o ataque ao Palácio de la Moneda), foi buscada para enterrar o presidente em cerimônia quase clandestina. Em seguida, ela partiu para o exílio, dedicando-se a denunciar o desrespeito aos direitos humanos durante a ditadura chilena. Foi memória viva do golpe e suas consequências. Aqui é convocada a falar na condição de esposa.   Desse documentário, deve-se também dizer que não hesita em abordar temas-tabu e não tenta fazer uma hagiografia do personagem. Apesar de grande líder, Allende é visto por seu lado humano. Por exemplo, fala-se, inclusive com a viúva, dos casos extraconjugais do presidente. Em termos familiares, aborda-se o tema delicado do suicídio. Em especial, o de Beatriz Allende, íntima colaboradora do pai, que termina por se matar em Havana em 1977. Marcia ouve também sua tia, a senadora Isabel Allende, que mantém viva a chama política da família.   

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