Kirsten Dunst, a missão de uma mãe

Em ‘Midnight Special’, a atriz é Sarah, que luta para encontrar o filho

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Por Cindy Pearlman
Atualização:

Faz 14 anos que Kirsten Dunst participou de um dos mais famosos beijos de todos os tempos: o beijo “180 graus” entre Mary Jan Watson (Kirsten) e, de cabeça para baixo, o Homem-Aranha (Tobey Maguire) em Homem-Aranha (2002). Ela apareceria ainda em dois outros blockbusters da franquia Homem-Aranha. Mas Kirsten, que em 30 de abril faz 34 anos e atua desde os 6, não é, na verdade, uma atriz das que levam multidões ao cinema. 

Depois de Homem-Aranha 3, ela é vista principalmente em filmes indies, como Entre Segredos e Mentiras (2010), Melancolia (2011) e As Duas Faces de Janeiro (2014). No entanto, há os que ainda lembram dela como a garota dos filmes do Homem-Aranha e de sucessos iniciais como Jumanji (1995) e Teenagers – As Apimentadas (2000). Se não fosse pelo namorado, o ator Garrett Hedlund, talvez não coestrelasse Midnight Special, o novo thriller, aplaudido pela crítica, de Jeff Nichols, diretor de O Abrigo (2011) e Amor Bandido (2012), que estreia no dia 1.º de abril com distribuição limitada.

A atriz Kirsten Dunst, que está no filme de Jeff Nichols Foto: Mario Anzuoni|Reuters

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“Vivo em Austin e não ando muito com estrelas”, explicou Nichols. “Uma noite, encontrei o namorado de Kirsten, falamos sobre o filme e ele disse que Kirsten tinha adorado meu filme Amor Bandido e que talvez ela fosse a escolha certa para esse novo longa.” Mas um papo com Kirsten, mais tarde, não seduziu o diretor. “Todo mundo diz que gosta de nossos filmes, é muito gentil. Mas isso não quer dizer que ela fosse a atriz perfeita para o papel.”Percebendo que a coisa não estava andando, Kirsten Dunst recorreu a medidas mais drásticas. “Ela me mandou um teipe”, contou Nichols. “Mesmo sendo uma grande estrela, fez um teipe. Amarrou o cabelo para trás e não usou maquiagem. Estava de cara limpa, verdadeira, e foi o que me pegou”, confessou o diretor.

Kirsten bebericava seu café na manhã gelada em um hotel de Manhattan. Do tipo mignon, usava um vestido preto tricotado e tinha o cabelo loiro curto de sempre. Midnight Special centra-se num pai (Michael Shannon) e seu filho (Jaeden Lieberher), que, de repente, se veem fugindo por causa de certos poderes que o garoto tem. 

Kirsten é Sarah, mãe do menino, que entra e sai da vida do garoto enquanto ele e o pai tentam enganar sequestradores, fanáticos religiosos e agentes do governo. “É um filme especial”, contou Kirsten. “Além do que, sou a maior fã dos filmes de Jeff. Gosto tanto de O Abrigo que nem precisei ler o roteiro de Midnight Special para saber que queria trabalhar com ele.” É fácil saber as motivações do personagem de Shannon, impulsionado pela necessidade vital de proteger o filho.

Sarah é mais complicada, mas Kirsten não teve problema em compreender a personagem. “Sarah já tinha passado por algo traumático quando aparece”, explicou a atriz. “Fazia dois anos que não estava com o filho. Não podia chamar a polícia e dizer que o garoto tinha poderes especiais e estava desaparecido”, lembrou.

“Não é, de modo algum, o filme mais confortável que Kirsten já fez. “Estávamos em fuga, o que significou passar muito tempo num carro abafado com Jaeden, Michael e Joel Edgerton”, comentou a atriz, rindo. “Lembro que, depois de alguns dias, o chão do carro estava forrado de snacks e embalagens. No quinto dia, era impossível contar quantos.” Sim, é ela em pessoa no carro em pelo menos algumas das cenas de perseguição. “Michael Shannon é capaz de lances ousados no volante”, acusou Kirsten.

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Midnight Special não é em princípio uma história de ficção científica, mas sugere que exista mais vida no universo do que o que vemos em volta. Kirsten, por seu lado, acredita nisso. “Sempre achei que existe mais vida. É um universo muito grande e acredito que lá fora haja alguma coisa mais. O filme é sobre como as pessoas reagem quando algo diferente acontece. Alguns podem fazer uma análise científica do menino, dissecá-lo. Outros, levados pela fé, gostariam de abraçá-lo. Outros podem se apavorar com ele”, revelou ela. “Gostei de que a conclusão de Jeff não tenha sido negativa, o que é confortador num filme de ficção científica.”

Jaeden Lieberher, de 13 anos, garantiu ter curtido o tempo que passou no carro com Kirsten. “Adorei tê-la como mãe”, falou ele numa entrevista à parte. “Ela é doce e, ao mesmo tempo, muito real. Nem mesmo age como atriz. É só uma pessoa engraçada com quem se quer passear no set. Antes de ser escalado como seu filho, eu a conhecia do Homem-Aranha. Também a vi em Entrevista com o Vampiro (1994). É uma grande atriz que pode fazer qualquer coisa”, ressaltou também. 

Kirsten consegue se identificar com um ator infantil, pois ela mesma é atriz desde a infância. Cresceu em Point Pleasant, New Jersey, e, aos 3 anos, já fazia comerciais de televisão. Aos 6, debutou no cinema em Contos de Nova York, de Woody Allen (1989). Continuou trabalhando em filmes e na TV, incluindo A Fogueira das Vaidades (1990) e Jornada nas Estrelas – A Nova Geração (1993). Mas só viria a “estourar” em 1994, como uma menina vampira em Entrevista com o Vampiro. A maioria dos críticos achou que ela “roubou” o filme dos astros Tom Cruise e Brad Pitt.

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Depois de papéis infantis em Adoráveis Mulheres (1994), Jumanji e Mera Coincidência (1997), Kirsten passou a papéis adolescentes em Todas as Garotas do Presidente (1999), As Virgens Suicidas (1999) e o surpreendente hit Teenagers – As Apimentadas. Em 2002, fez seu primeiro papel adulto em Homem-Aranha. O sucesso do filme levou-a ao estrelado. Desde essa época, sua carreira vem tendo altos e baixos. Tudo Acontece em Elizabethtown, de Cameron Crowe (2005), e Maria Antonieta, de Sofia Copolla (2006), não foram bem nem na bilheteria nem na crítica, mas Kirsten foi muito incensada e ganhou o prêmio de melhor atriz no Festival de Cannes – por seu desempenho em Melancolia (2011). 

Em 2008, na esteira de vários filmes que desapontaram, ela entrou em uma reabilitação por depressão, que atribuiu a estar “viciada em elogios”. “Atuar é um trabalho duro”, diz a atriz. “É preciso suportar críticas que doem muito e, por honra da profissão, continuar sensível e mantendo seus sentimentos. Mas aprendi que você pode apenas ser você mesma”, acrescentou a atriz. / TRADUÇÃO DE ROBERTO MUNIZ 

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