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Kenneth Branagh traz o Expresso do Oriente de Agatha Christie para o séc. 21

Elenco de 'Assassinato no Expresso do Oriente' conta com Josh Gad e Johnny Depp

Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

À revista Empire, o ator Josh Gad, que faz McQueen, o assistente do personagem interpretado por Johnny Depp em Assassinato no Expresso do Oriente, declarou que o set foi uma experiência inesquecível. “Ken (o ator e diretor Kenneth Branagh), Judi Dench e Derek Jacobi passavam o tempo livre entretendo a gente com Shakespeare. Deus, eles nos humilhavam com suas citações. Mas eu descobri que podia citar as falas de Os Goonies e eles não tinham a mínima noção. Shakespeare é fácil, mas Os Goonies...”

Kenneth Branagh. O novo Poirot com o retrato 'oficial' do elenco de 2017 Foto: Fox Film do Brasil

Assassinato no Expresso do Oriente estreia nesta quinta, 30, em salas de todo o Brasil. Agatha Christie como nunca se viu - câmeras de 35 mm, as mesmas que Christopher Nolan usou em Dunkirk, cenários espetaculares, etc. A ‘Dama do Mistério’ numa versão para o público jovem das salas Imax. Num filme que já nasceu com a vontade de ser grande, o trem, o Expresso do Oriente, tem de ser um personagem especial. E, claro, o bigode - o ‘moustache’ - de Hercule Poirot também tem de possuir um design marcante. São muitos os detalhes que fazem do filme um programa atraente, mas quando a Empire, na visita ao set, lhe perguntou o porquê de câmeras tão grandes, Ken não deixou por menos. “Você não queria que eu filmasse esse elenco de astros e estrelas com câmeras pequenas, não?”+++ 'Assassinato no Expresso do Oriente' traz Agatha Christie de volta ao cinema; veja trailer Johnny Depp, Michelle Pfeiffer, Penelope Cruz, Willem Dafoe, Olivia Cole, Derek Jacobi, Daisy Ridley, Josh Gad, Tom Bateman e Kenneth Branagh. É o que se chama de elenco ‘all star’, mas a verdade é que a versão de 1974, realizada por Sidney Lumet, também tinha um elenco muito impressionante - Albert Finney, como Hercule Poirot, Lauren Bacall, Martin Balsam, Jacqueline Bisset, Sean Connery, John Gielgud, Anthony Perkins, Vanessa Redgrave, Rachel Roberts, Richard Widmark, Michael York - e Ingrid Bergman, que ganhou o Oscar de coadjuvante pelo papel. Se Branagh precisou de grandes câmeras para filmar seu grande elenco, Lumet foi por outro caminho e preferiu apostar em planos longos - planos-sequência - para permitir a seus grandes atores e atrizes que se expressassem.+++ Há 40 anos morria Agatha Christie – e seus livros nunca saíram de moda​Agatha Christie escreveu seu livro famoso em 1934 e, 40 anos depois, surgiu a adaptação de Sidney Lumet. Entre 1974 e 2017, surgiram outras duas versões - para TV, em 2001 e 2010. Só na resolução do mistério do Expresso do Oriente - a versão de Lumet chama-se Assassinato no Orient-Express -, quatro atores se revezaram no papel, incluindo as duas versões televisivas, ao usar o bigode. Albert Finney, Alfred Molina, David Suchet e, agora, Kenneth Branagh. Nenhum deles tem o physique com que a dama escritora descreve seu detetive belga. Nos livros, Hercule (não é Hercules) Poirot está mais para um dândi à Santos Dumont. Certamente não é volumoso, a cabeça é de ovo e os bigodes competem com os do lendário Salvador Dalí. São finos e torcidos nas extremidades, o que os torna ‘redondos’.+++ Trailer de 'Assassinato no Expresso do Oriente' traz 'Nazaré confusa' A mudança física não é nada comparada a certas liberdades que Branagh toma para adaptar seu personagem ao gosto das plateias atuais. Embora grande observador, Hercule Poirot tem absoluto desprezo pela ação física. Em vez dos músculos, exercita as células cinzentas do cérebro. Agatha Christie talvez se horrorizasse ao vê-lo correr, bater e tomar tiro. Liberdades à parte, o filme encerra-se com M. Poirot sendo chamado para outro caso - A Morte no Nilo, o que promete outro remake, do filme de John Guillermin com Peter Ustinov e outro grande elenco (Bette Davis, David Niven, Angela Lansbury, Mia Farrow, etc), de 1978. E a pergunta que não quer calar - faz sentido adaptar Agatha Christie? Sem dúvida, ela pode não ser muito ‘cinematográfica’, privilegiando o cérebro sobre os músculos, mas a história do filme continua forte, densa. Um morto no trem, 12 suspeitos. M. Poirot diz sempre que existe certo e errado, e nada no meio. Esse caso é especial porque até o grande Poirot descobre que, afinal, talvez exista algo no meio. Quem matou? Por quê? Mesmo sabendo, você vai ficar balançado. E, sim, como Ingrid Bergman ganhou o Oscar de coadjuvante, Michelle Peiffer também poderá levar. É excepcional, em outra personagem.+++ Análise: Em 'Assassinato no Expresso do Oriente', dilema ético pincela toque de grandeza à históriaMistérios da dama que venceu o tempo É quase meia-noite quando a neve acumulada nos trilhos interrompe a jornada do Expresso do Oriente, o mais luxuoso trem de passageiros do mundo, que liga a Ásia à Europa. A bordo, um assassinato. A bordo, também, o mais importante detetive do mundo - Hercule Poirot, a quem caberá decifrar o mistério. Quem matou, e por quê? São 12 suspeitos e a solução não será aquela a que o leitor está acostumado. Após a Bíblia e Shakespeare, Agatha Christie segue sendo a autora mais editada do mundo. Agatha morreu em janeiro de 1976, aclamada como a dama do mistério. Nesses 42 anos, o mundo mudou muito. Em tempos de internet e redes sociais, nada mais antiquado do que o método dos detetives de Agatha Christie. Hercule Poirot e Miss Marple não correm procurando pistas. Pensam. E assim resolvem os mistérios. Whodunit. Quem matou? Miss Marple é ainda mais radical. Vê o mundo do ângulo de sua aldeia. Olhar o mundo ao redor lhe permite decifrar a natureza humana - não importa onde. A fórmula do crime no Expresso do Oriente é a do ‘locked room’, o quarto fechado. O vagão do trem. O próprio trem é quase obsoleto na era dos jatos. O que permanece é o mistério da escrita. Continua sendo muito bom ler Agatha Christie.

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