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Karim Aïnouz dirige filme sobre o artista Olafur Eliasson

'Domingo', que integra a Coleção de Autores do Videobrasil, tem sessão neste sábado no Festival do Rio e em São Paulo, no dia 26

Por Flavia Guerra
Atualização:

O que pode acontecer quando o diretor Karim Aïnouz é convidado a realizar um filme sobre a obra e o artista Olafur Eliasson? O primeiro é cineasta tarimbado, diretor de longas como Madame Satã e Praia do Futuro, que transita pelos caminhos da ficção e do documentário, contaminando tanto a um quanto ao outro com elementos do real e do imaginado. O segundo é um dos mais festejados artistas contemporâneos, que provoca sempre o público para fazer de sua percepção de mundo um instrumento para também perceber e sentir a arte. 

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O resultado deste encontro chama-se Domingo e pode ser visto neste sábado, às 17h30, no Festival do Rio, em première no Instituto Moreira Salles. O filme faz parte do projeto Coleção de Autores, da Associação Cultural Videobrasil em parceria com o Sesc, e traz um recorte da obra de Olafur pelo olhar de Karim.

Idealizada para provocar o choque, e o diálogo, entre artistas variados de áreas diversas, a Coleção de Autores já conta com produções sul-africano William Kentridge, o libanês Akram Zaatari, a cubana Coco Fusco e os brasileiros Rafael França, Chelpa Ferro e Mau Wal (Maurício Dias e Walter Riedweg), entre outros. 

Domingo, o novo filme da série, além do Rio, terá sessões no Ceará e em São Paulo, durante a Mostra Internacional de Cinema, no dia 26 de outubro, no Minhocão. 

A escolha do local não é mero acaso. O Elevado não só é cenário como um personagem do média-metragem de 26 minutos, que acompanha o ritmo da cidade sempre aos domingos. 

“São Paulo. Domingo. São Paulo de Domingo. 10XDomingo. Domingo. 1 de janeiro de 2012.” Assim começa o filme, anunciando que o que veremos é uma cidade em sua engrenagem característica ‘contaminada’ por elementos da obra de Olafur. “Tentei imaginar o que ele teria feito se tivesse feito da cidade uma obra sua”, explicou o diretor Karim Aïnouz, em conversa com o Estado. 

Para chegar a este resultado, o processo foi longo, mas produtivo. “Há mais de dois anos, Solange (Farkas, curadora e presidente da Associação Cultural Videobrasil) me chamou para fazer um documentário sobre o Olafur e eu, apesar de não achar que era a pessoa mais indicada, adorei. Há algo incrível no trabalho dele, a questão da representação, que é fascinante”, contou o diretor. 

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Mas, antes de começar, Karim sentiu que era preciso conhecer o artista. “Para que houvesse um diálogo entre nós. Fui ao ateliê dele, conversamos. E a primeira coisa que decidimos era que tentaríamos fazer algo juntos. E surgiu uma instalação”, explicou o diretor. “A gente se encontrava, levei algumas imagens de São Paulo para ele. Entre elas, do Minhocão”, conta Karim, que há muito tempo tinha justamente vontade de fazer um filme sobre o Elevado. “Em vez de fazer o que a Solange tinha nos pedido, fizemos uma instalação chamada Sua Cidade Empática, que foi exposta no Sesc (no 17º Festival Internacional de Arte Contemporânea, de 2011)”, relembra Karim, que, neste ano, preside o júri do Festival do Rio. 

A partir daí, Karim partiu para Domingo e para um diálogo com Olafur e com São Paulo. “Percebi que esse trabalho tinha de dar conta do que ele queria ter feito desde o início, que era estabelecer uma conversa próxima com a cidade. Ele fez isso com trabalhos em Estocolmo e em Londres, onde realizou um trabalho na Tate Gallery. Senti falta disso em São Paulo. Retratei cenários da capital com a bicicleta que o tinha ajudado a instalar, olhava alguns lugares e pensava na marca de Olafur em cada um. E pensei na forma como, em sua obra, ele sempre se relaciona com o vazio, os grandes espaços”, explica Karim.

Não é, portanto, por acaso, a forma como o diretor introduz o filme para o espectador. Imagens de pessoas caminhando por grandes espaços, praças desertas, parques, viadutos, o Minhocão. “Foi uma experiência e tanto estabelecer uma interação com um artista para chegar a um trabalho final que não fosse nem o meu trabalho e nem o dele, mas um encontro, uma forma de olhar o mundo”, conclui o diretor. 

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Para Solange Farkas, Domingo foi um divisor de águas do Coleção de Autores. “Do ponto de vista da curadoria, o que muda é perceber e localizar os artistas que, juntos, estabelecem um diálogo pertinente. Quando a gente começou a trabalhar com o Olafur, queria muito que também fosse o Karim a participar”, comenta a curadora. 

“O encontro era pertinente. Karim tem uma poética muito particular. Assim como Olafur, trabalha o tempo expandido, a cor. A forma única de Karim construir sua história, dialogar entre a videoarte e a ficção, era crucial para o projeto”, acrescenta Solange, que, entre outros projetos, trabalha na edição 2015 do Festival Videobrasil, em outubro, e no lançamento de Domingo e de outros filmes da coleção no exterior. 

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