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Irandhir Santos, protagonista do filme Obra, emenda filmagem em São Paulo e no Recife

Ator também foi destaque no festival de Gramado com o longa-metragem Ausência

Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Grande ator brasileiro – o maior de sua geração? –, Irandhir Santos tem enfrentado desafios imensos ao longo de sua breve carreira. O espectador que o vê nos cinemas como o arquiteto de Obra, de Gregório Graziosi, consumido pela dor que lhe produz uma hérnia de disco e que tem de fazer um esforço considerável para se vestir, é capaz de se perguntar – como ele consegue? Existem desafios maiores. Em Ausência, de Chico Teixeira, que recebeu quatro Kikitos no recente Festival de Gramado, incluindo melhor filme e direção, Irandhir faz o professor que se confronta com um problemão. O garoto protagonista, criado sem a referência paterna, projeta nele sua carência, ou será mesmo homoafetividade?

O garoto, interpretado por Matheus Fagundes, acossa o professor na cama e Irandhir tem de representar outro tipo de dor. Fica dilacerado pela sua responsabilidade face ao adolescente, mas também sente desejo. Pela primeira vez em sua carreira, Irandhir, o grande, sentiu-se travado. Foi ao diretor – “Chico, o que é que eu faço?”, perguntou. “Te vira”, foi a resposta. A cena é admirável e, certamente, decisiva para a bela campanha que Ausência vem fazendo em festivais nacionais e estrangeiros. Os prêmios em Gramado somam-se a outros que o filme já recebeu no País e em eventos internacionais.

Cena do filme Obra, de Gregório Graziosi, com Irandhir Santos. Foto: Divulgação

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Há apenas dez anos, em 2005, Irandhir ainda lutava por pequenos papéis em filmes como Cinema Aspirinas e Urubus, de Marcelo Gomes, e Baixio das Bestas, de Cláudio Assis. Em 2007, fez seu primeiro protagonista, mas o personagem de Viajo Porque Preciso, Volto Porque Te Amo, filme ensaio de Karin Aïnouz e Marcelo Gomes, nem aparece. É apenas uma voz, um vulto, detalhes de um corpo. Nesta década prodigiosa, Irandhir não parou mais de filmar. Quincas Berro D’Água, O Senhor do Labirinto, Tropa de Elite 2, A Hora e a Vez de Augusto Matraga (a nova versão), Febre do Rato, O Som ao Redor, Tatuagem, Permanência, Obra, Ausência, A Luneta do Tempo, História da Eternidade. Pela riqueza dessa trajetória que privilegia o cinema de autor, Irandhir já teve direito até a homenagem – na Mostra de Tiradentes, a grande vitrine do novíssimo cinema autoral no País.

Irandhir está agora em São Paulo, onde iniciou na quarta-feira, dia 19, a rodagem de mais um filme. Roda durante dez dias, para cinco e, no Recife, integra-se ao elenco de Aquário, para uma participação no último fim de semana do novo filme de Kleber Mendonça Filho, seu amado diretor de O Som ao Redor. Aquário “é o filme da Sônia” (Braga), que volta a filmar no Brasil, e num papel importante, numa obra sobre a terceira idade. “Já a conheci, e foi um encontro amoroso, bacana.” Foi mais ou menos o que disse Matheus Fagundes no debate sobre Ausência, em Gramado. “Irandhir me apoiou muito. Imagine, eu, pouco mais que um principiante, contracenando com um ‘monstro’ como ele... Mas Irandhir nunca foi intimidador. Fez tudo para me apoiar, como faria um pai.”

ENTREVISTA: Diretor Gregório Graziosi, de Obra, elogia o protagonista Irandhir Santos

Relações familiares estão no centro de Obra, que também vem recebendo prêmios importantes. No Festival do Rio, no ano passado, venceu o prêmio da crítica e o de melhor fotografia, um extraordinário trabalho em preto e branco de André Brandão. Em Havana, não só a fotografia, mas também a direção de arte e toda a mise-en-scène, contribuíram para o prêmio à melhor contribuição artística, atribuído a Obra. Não se intimide por definições do tipo que o filme é enfadonho. Era o que muita gente também dizia das elucubrações existenciais de Michelangelo Antonioni ou das (meta)linguísticas de Jean-Luc Godard. 

Para um ator intenso como Irandhir, que mergulha fundo nos personagens, o que ele está fazendo agora é uma violência. Até por se dar tanto, ele reserva um tempo entre projetos, mas aconteceu de as datas de Animal Cordial, seu longa paulista com a diretora Gabriela Amaral Almeida, e Aquário terem batido. “Kleber (o diretor Mendonça Filho) foi superatencioso e jogou minhas cenas no filme dele para o fim, para que eu pudesse fazer os dois.” E o que havia de tão interessante para que Irandhir, alterando seus métodos, não abrisse mão de ambos os filmes?

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“Kleber é amigo e um grande diretor. Tivemos uma parceria ótima em O Som ao Redor e tudo o que eu queria era voltar a trabalhar com ele. Animal Cordial é filme de gênero. Nunca fiz. Meu trabalho de mesa com a diretora está sendo estimulante. Vai ser um desafio que acho que preciso enfrentar.” E como ele se prepara para dar um mergulho após o outro, quase sem tempo para se reciclar? “Acho que vou ter de mergulhar mais fundo do que sempre faço. A imersão vai ser total. Não vejo outro jeito de conseguir entrar em experiências tão fortes, num tempo tão curto.”

Há 11 anos Irandhir Santos não faz teatro. Está morrendo de vontade – de ‘tesão’ – de voltar ao palco. “Agradeci muito a Hilton (Lacerda) por ter me dado aquele gostinho de palco na preparação dos esquetes para Tatuagem. Mas aquilo só aumentou minha fome de teatro.” E ele fez TV, Meu Pedacinho de Chão, com Luiz Fernando Carvalho. Como foi, para um ator cujo método exige tempo (e preparação), entrar no ritmo industrial da TV? “Luiz Fernando me deu minha primeira grande oportunidade quando fizemos A Pedra do Reino. Devo-lhe muito. E Meu Pedacinho foi um experimento dele, fora desse ritmo alucinante.” A novela, inclusive, trabalhava com texto fechado (de Benedito Ruy Barbosa), não? “É, mas para os atores Luiz Fernando ia liberando o texto aos poucos. Nunca tivemos a curva completa dos personagens. E a gente terminava por se reinventar todo dia naquele universo de cor e magia."

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