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Filme sobre máfia ganha destaque no festival de Veneza

Por MICHAEL RODDY
Atualização:

Um documentário italiano sobre a máfia, cuja diretora disse ter checado todos os fatos “1.400 vezes”, balançou o Festival de Cinema de Veneza na quarta-feira, mostrando um discutível acordo secreto entre o establishment político da Itália e o crime organizado. "La Trattativa”, mostrado fora da competição do mais antigo festival do mundo, é dirigido por Sabina Guzzanti, uma ex-comediante e antiga inimiga do ex-primeiro-ministro italiano Silvio Berlusconi, que é uma figura proeminente no filme. “Na compreensão e no aprofundamento deste material, eu também tive momentos de depressão, de medo e pensei as mesmas coisas que todos nós consideramos por anos, ‘Deixarei (a Itália), não há nada mais para se fazer aqui'”, disse Sabina em uma coletiva de imprensa após a projeção do filme. “Mas eu acredito que o propósito deste filme é permitir que todos, até mesmo aqueles não entram nos detalhes e não leem os jornais todas as manhãs, ou o que seja, entendam o que estamos enfrentando e os fatos que mudaram o curso de nossa democracia." Embora nunca definitivamente provado, a especulação sobre um possível contato entre representantes do Estado italiano e da máfia siciliana para encerrar uma série de atentados a bomba no começo dos anos 1990 nunca foi dissipada. Promotores sicilianos estão atualmente trabalhando em um grande julgamento sobre o caso. Acredita-se que a chamada "Trattativa Stato Mafia” tenha sido parte de uma ampla gama de relações entre políticos italianos e a máfia, chegando aos níveis mais altos. O filme fortemente sugere que o partido de Berlusconi, o Força Itália, foi criado, pelo menos em parte, para fornecer à máfia um governo amigável que aliviaria a perseguição da promotoria e as restrições a figuras condenadas do crime organizado. Há um ano, uma corte de apelações de Palermo condenou Marcello Dell’Utri, um antigo aliado político e amigo de Berlusconi, por servir como um intermediário entre a máfia da Sicília e a elite de negócios de Milão, incluindo as empresas de Berlusconi, até 1992, e o sentenciou a sete anos de prisão. Dell'Utri comandou a companhia de publicidade do império midiático de Berlusconi de 1984 a 1995, e tornou-se um conselheiro do ex-premiê quando entrou na política há duas décadas, ajudando-o a montar a Força Itália desde o começo. Berlusconi, que sempre negou legações com a máfia, e Dell’Utri enfrentaram problemas legais durante grande parte de suas carreiras, e ambos acusam os magistrados de persegui-los por motivos políticos. Tudo no filme foi verificado e duplamente checado, e todos os fatos são reais e confirmados", disse a diretora, acrescentando que sua equipe tinha "verificado tudo 1.400 vezes".

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