Filme 'Danado de Bom' vence Cine PE

Documentário leva principal prêmio no festival; júri não estimulou ousadia

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Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

O ganhador. Sobre parceiro menos conhecido de Gonzagão

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Houve um grande filme, e apenas um, na competição do Cine PE – Festival do Audiovisual, que terminou domingo, 8, à noite. O júri, integrado, entre outros, pelos diretores João Batista de Andrade e Guilherme Fiúza e pela atriz Ingra Liberato, saiu pela tangente atribuindo a Guerra do Paraguay, de Luiz Rosemberg Filho, seu prêmio especial. A Calunga do júri é certamente importante, mas o júri, como se não estivesse convencido dos méritos de Guerra do Paraguay em particular, a estendeu ao conjunto da produção do diretor, e aí foi pouco prêmio para muita obra.

Na festa de seus 20 anos, o Cine PE premiou uma produção pernambucana. A Calunga de melhor filme foi para o documentário Danado de Bom, de Deby Brennand, sobre o parceiro menos conhecido do lendário Luiz Gonzaga, João Silva. Mas o júri não bancou somente o documentário. A Calunga de direção foi para Rodrigo Fava, por As Aventuras do Pequeno Colombo, e talvez tenha sido um desagravo, porque a presença da animação infantil provocou certa controvérsia. Um filme para crianças num festival cuja censura, estava lá na peça promocional, era 18 anos?

O público (adulto) não se encantou com o Pequeno Colombo e o prêmio do júri popular consagrou o sertão multicolorido e estilizado de Por Trás do Céu. Houve um seminário para discutir a representação do Nordeste na tela. No tal debate, o próprio ator Renato Góes definiu o diretor (paulista) Caio Sóh, a quem o júri atribuiu o prêmio de roteiro, como ‘estrangeiro’. É curioso que o público tenha preferido Por Trás do Céu a Danado de Bom. Renato, de qualquer maneira, e Paula Burlamaqui venceram os prêmios de coadjuvantes para o júri oficial. Felipe Kanenberg e Simone Illescu venceram as Calungas de ator e atriz por Leste/Oeste, e embora ambos sejam a melhor coisa do filme de Rodrigo Grota, o júri talvez devesse ter olhado com mais carinho para o radical Rosemberg. Não apenas o prêmio de direção seria mais forte como reconhecimento do conjunto da obra (e das qualidades de Guerra do Paraguay em especial) como o elenco foi irretocável, no embate voz/gestual, para passar o texto contundente do grande autor.

Não é a primeira vez que o melhor não leva – nem será a última. A crítica reconheceu a importância de Guerra do Paraguay e lhe atribuiu seu prêmio. Inverteram-se os papéis na categoria curtas. O júri ousou mais que a crítica ao premiar o viscontiano Redemunho, de Marcélia Cartaxo – os críticos preferiram Paulo Bruscky, de Walter Carvalho. De novo, houve divisão dos prêmios – melhor curta para Redemunho, melhor direção para Marcello Sampaio, por O Coelho.

O belíssimo Das Águas Que Passam, de Diego Zon, teve de se contentar com a Calunga de edição de som. Foi muito mais que obteve o (en)cantado +1 Brasileiro, de Gustavo Moraes, o outro capixaba da competição de curtas. O júri, decididamente, não foi ao Recife para estimular a ousadia.

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