Como a Mostra de São Paulo, o Festival do Rio aproveita restrições impostas pela crise econômica que assola o País para repensar focos e estratégias. “Há tempos pensávamos num festival menos gigantesco, com menos filmes e salas, mas com toda a diversidade que tem feito a grandeza do evento. É a hora de fazer isso”, avalia Ilda Santiago, diretora artística do festival carioca, que este ano se desenrola de 1.º a 14 de outubro. As restrições não atingem a Première Brasil. “Podemos estar cortando vários custos, mas a participação brasileira é prioritária, e não apenas na Première. Vamos ter filmes nacionais em outras seções”, ela conta.
Na segunda-feira, 31, à noite, num evento realizado em São Paulo – a pré-estreia de Entrando numa Roubada, que estreia amanhã –, Marcos Didonet, da cúpula do Festival do Rio e coordenador dos debates da Première Brasil, havia dito ao repórter – “Prepare-se porque é a melhor Première Brasil em anos. Só tem coisa boa.” O mistério foi dissipado nesta terça, dia 1.º, pela manhã, com o anúncio dos filmes brasileiros que vão concorrer ao troféu Redentor. A disputa contempla ficções, documentários e os filmes agrupados na mostra Novos Rumos.
Dos 13 longas selecionados para a competição de ficção, dois se destacam imediatamente – Quase Memória, que Ruy Guerra adaptou do romance de Carlos Heitor Cony, e A Floresta Que se Move, de Vinicius Coimbra, que se baseia em Macbeth, de Shakespeare. Já houve um Macbeth, com Michael Fassbender e Marion Cotillard, em Cannes, em maio. Ruy Guerra é um dos grandes do cinema no País. Vinicius Coimbra já venceu o Redentor, e com um filme que permanece criminosamente inédito. A Hora e Vez de Augusto Matraga, de 2012, é adaptação do conto de Guimarães Rosa em Sagarana. É deslumbrante.
Apesar do destaque outorgado a esses dois, a seleção de ficção é ornada por nomes importantes – Marcos Jorge, Sandra Kogut, Roberto Berliner, Sérgio Machado, Gabriel Mascaro, etc. Na categoria documentários vão concorrer, entre outros – Futuro Junho, de Maria Augusta Ramos, e Olmo e a Gaivota, de Petra Costa e Lea Glob. Novos Rumos vai exibir Ralé, de Helena Ignez, e um longa gaúcho que provocou certa sensação em Berlim, em fevereiro, por seu enfoque da juventude (e da homossexualidade), Beira-Mar, de Filipe Matzenbacher e Sérgio Reolon.
Em seções não competitivas da Première Brasil, o Rio exibe o novo Walter Lima Jr., Através da Sombra, e um clássico do diretor, Menino de Engenho, de 1965, em versão restaurada. Também promete muito o documentário Andre Midani – Do Vinil ao Download, de Andrucha Waddington e Mini Kertis, que não deixa de propor uma breve história da música brasileira.