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Festival baiano consagra documentários brasileiros

O júri, presidido pela atriz mexicana Ofélia Medina, concedeu o Prêmio Glauber Rocha ao filme espanhol ?Contracuerpo", de Eduardo Chapero-Jackson

Por Agencia Estado
Atualização:

O júri da 33.ª Jornada Internacional de Cinema da Bahia, presidido pela atriz mexicana Ofélia Medina ("Frida, Natureza Viva"), atribuiu o Prêmio Glauber Rocha, sua láurea máxima, ao filme espanhol ?Contracuerpo?, perturbadora fábula contemporânea sobre a obsessão por um corpo magro e belo, dirigida por Eduardo Chapero-Jackson. Dois documentários brasileiros - ?À Margem do Concreto?, de Evaldo Mocarzel, e ?Dia de Festa?, de Toni Venturi e Pablo Georgieff - também foram premiados. ?À Margem do Concreto?, segunda parte de tetralogia que Mocarzel constrói sobre pessoas marginalizadas, ganhou o Troféu Tatu de melhor longa documental e o Prêmio BNB, no valor de R$10 mil. ?Dia de Festa?, longa documental que também aborda o tema da luta dos Sem-Teto por moradia, fez jus a Prêmio Especial do júri. Espanha, Brasil e Venezuela tiveram as representações mais fortes e conquistaram as principais láureas. Além do Prêmio Glauber Rocha, o cinema espanhol, conquistou o Troféu Tatu de melhor filme de animação ("La Noche de los Feos", de Gonzáles Mauricio) e melhor ficção, com ?Penalty?, de Ana Martinez. A Venezuela ganhou o Tatu de melhor direção (com ?La Libreria?, de Hernan Jabes), melhor roteiro (para Gustavo Rondon & Rafael Velásquez por ?Que Importa Cuanto Duran las Pilas?). Rondon ganhou também o Tatu pela melhor montagem. O Prêmio BNB de curta-metragem coube ao baiano ?Na Terra do Sol?, de Lula Oliveira. A produtora do filme, Solange Lima, recebeu o Prêmio das mãos da atriz Ofélia Medina (foto). O melhor curta documental foi ?Descobrindo Waltel?, de Alessandro Gamo. O júri, que além de Ofélia contou com a produtora cubana Rosa Rovira, o compositor José Carlos Capinan, o artista gráfico Fernando Pimenta e o cineasta Sérgio Muniz, elegeu o documentário de Gamo por ?recuperar, de forma despojada, a trajetória do excepcional músico brasileiro, de sucesso internacional e quase anônimo em seu próprio país?. O Troféu Tatu de melhor atriz coube à veterana Lea Garcia, que interpreta a filha do marinheiro João Cândido, o mestre-sala dos mares, em ?Memórias da Chibata?, do carioca Marcos Manhães. O prêmio de melhor ator coube a Fábio Lago (pelo filme ?A Última do Amigo da Onça?). Para o júri, Lago ?interpreta com talento um personagem datado, o Amigo da Onça, criação do cartunista Péricles?. Na mostra competitiva de vídeo, o grande vencedor foi ?Kollassuyo - A Guerra do Gás?, do brasileiro Pedro Dantas. O júri, presidido pelo cineasta finlandês Mila Kaurismaki, entusiasmou-se com a oportunidade histórica do documentário paulista, vibrante registro da guerra do gás, que agitou a Bolívia em 2003 e levou à renúncia de dois presidentes e, depois, à eleição de Evo Morales. Na área da ficção, o vencedor foi ?O Grande Bazar?, do gaúcho (radicado em Moçambique), Licínio Azevedo. Em 56 minutos, com frescor e leveza, Licínio traça tocante retrato de meninos africanos que tentam ganhar a vida num mercado popular, com pequenos biscates (caso do protagonista, um garoto negro) ou furtos. Uma história que tem tudo para encantar Regina Casé, que perambula com sua câmara pelas mesmas periferias de Maputo. A Jornada de Cinema da Bahia conheceu, este ano, seu filme recordista de público: ?O Mundo Globalizado Visto do Lado de Cá?, de Sílvio Tendler. O novo trabalho do cineasta carioca, exibido fora de concurso, revê a história contemporânea pelo olhar do geógrafo baiano Milton Santos (1926-2001) e dialoga com filmes como ?A Corporação? (Canadá), ?Rap da Ceilândia? (Brasília) e com pequenos documentários avulsos do argentino Carlos Pronzato. O frisson causado pelo filme -- que tem como fio condutor entrevista do geógrafo realizada quatro meses antes de sua morte - constituiu em fato nunca registrado nos 33 anos de história do festival baiano. Os que não conseguiram ingresso ameaçaram promover, apoiados nos que estavam dentro do cinema (liderados pelo cineasta Edgard Navarro), verdadeiro quebra-quebra, caso não conseguissem entrar. Entraram e o filme, exibido para sala hiper-lotada, teve sessão extra no dia seguinte. Tendler, apoiado em inseparável bengala, comemorava feliz: ?faço cinema para discutir as grandes questões do meu tempo, não temo o didatismo e busco, apaixonadamente, público interessado num cinema que estimule a reflexão?.

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