ESTREIA-'Os Amigos' faz crônica delicada das relações afetivas

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Por Redação
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“Os Amigos”, da cineasta paulista Lina Chamie, vibra na tela um afeto delicado, numa construção sofisticada de narrativa, pontuada pelas interpretações iluminadas de Marco Ricca (talvez no melhor papel de sua carreira), Dira Paes, e um elenco infantil que faz intervenções realmente mágicas – além de um adorável cachorrinho, Moby. O filme estreia em São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Salvador, Belo Horizonte, Recife, Curitiba e Porto Alegre. Roteirizado pela própria Lina, “Os Amigos” fala de afetos de uma forma cálida e criativa, capaz de invocar a ternura possível entre as pessoas, mesmo diante da dor da perda de alguém querido, das frustrações do trabalho, do caos da chuva e do trânsito em São Paulo (cidade que, mais uma vez, aparece decisivamente enérgica e múltipla como é num filme da autora de “Tônica Dominante” e “Via Láctea”). As intervenções infantis nessa trajetória de um dia na vida de Téo (Marco Ricca) – que se torna uma espécie de protótipo de um ser humano qualquer – somam poesia de uma forma engraçada, musical, mágica. Há cenas com os filhos de Maju (Dira) e de uma amiga recém-viúva (Sandra Corveloni) na vida dele, com um adorável “consultor” numa loja de brinquedos – há um diálogo inusitado entre este menino e o protagonista sobre super-herois – e também trechos de uma encenação teatral/circense mirim da “Odisséia” de Homero. Ulisses, o herói grego, viajante no meio das águas, serve como metáfora cristalina da turbulência existencial de Téo, no dia em que acorda para ir ao funeral de um amigo de infância, Juliano (Otávio Martins), que ele não via há muito, muito tempo. Usando, como sempre, com total propriedade e sensibilidade sua sólida formação de musicista, Lina Chamie incorpora trechos dos compositores Camille Saint-Saens (na admirável sequência no zoológico, criando um motivo musical para cada animal), Edvard Grieg e Benjamin Britten, construindo texturas dentro do filme, camadas dentro de camadas, que vão lhe dando uma consistência dramática e cinematográfica singular. Por tudo isso e muito mais, “Os Amigos” mostra-se como um filme de câmera, em que o coração da diretora-roteirista, de todos os atores e técnicos (destacando-se a montagem sutil de Karen Harley), transparece na tela e abraça o seu público. “Os Amigos” é realmente um filme para abraçar, uma sinfonia da ternura dos pequenos gestos que, essa sim, pode salvar. E salva muitos todos os dias. (Por Neusa Barbosa, do Cineweb)

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