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ESTREIA-Breno Silveira revisita Luiz Gonzaga em biografia comovente

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Por Redação
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O diretor brasiliense Breno Silveira tem um afinado olhar musical e humano. Foi assim em "Dois Filhos de Francisco", de 2005, em que recria a infância e a vida adulta da dupla sertaneja Zezé di Camargo e Luciano, prosseguindo em "À Beira do Caminho", deste ano, embalado nas canções de Roberto Carlos. Nesta sexta-feira, ele lança "Gonzaga, de Pai pra Filho", comovente biografia de Luiz Gonzaga, o Rei do Baião, e de seu filho, Gonzaguinha, um dos mais importante compositores da geração universitária da MPB, ao lado de Ivan Lins e de Aldir Blanc, morto precocemente em um acidente de carro em 1991, aos 45 anos. Luiz Gonzaga morreu em 1989, aos 77 anos. O filme de Breno tem tudo para encantar o público: uma profunda história humana, calcada na difícil relação entre pai e filho, uma reconstituição de época muito bem cuidada, elenco afinadíssimo (até em termos musicais) e a música eterna de Gonzaga que, apesar de marcadamente regional, se espalhou como rojão de festa junina pelas capitais além do Nordeste e até pelo exterior. O enredo acompanha a infância pobre de Gonzaga (interpretado por Land Vieira na adolescência, por Chambinho do Acordeon na fase adulta e por Adélio Lima, na maturidade), filho de Januário (Cláudio Jaborandy), um respeitado sanfoneiro do sertão de Pernambuco e seu empenho em viver da música, apesar de todas as dificuldades. Com o destino traçado pela pobreza, numa sociedade dominada por chefes locais conhecidos por "coronéis", por manterem a ordem em seus domínios a ferro e fogo como chefes militares, não restou outra opção ao menino Lula a não ser fugir de casa e ir para a capital, onde acabou se alistando no Exército. Graças a isso pôde enviar algum dinheiro à família e, posteriormente, partir para o Rio de Janeiro, então a capital do país, já pensando em sobreviver da música. Ainda não como compositor, mas com apresentações nas ruas e bares da cidade em troca de trocados para um prato de comida. Num dancing da cidade conheceu Odaléia (Nanda Costa), com quem se casou e teve o filho Luiz Gonzaga Jr., o Gonzaguinha. Mas a morte prematura da mulher, por tuberculose, acabou criando problemas no relacionamento entre pai e filho. Gonzaga passou a se ausentar cada vez mais de casa para fazer shows pelo Brasil, deixando o menino sob os cuidados de um casal de amigos, que viviam no Morro de São Carlos, que na prática acabaram criando o garoto. Dina (Silvia Buarque), que não tinha filhos, se apegou à criança como se fosse realmente sua (já famoso, Gonzaguinha a homenagearia na canção "Com a Perna no Mundo"). E é a difícil relação entre os dois, valorizada pela atuação de Júlio Andrade como o jovem músico carioca, que encharca o filme de um drama humano em que rancor e amor duelam num mesmo corpo, o que só é vivido em profundidade em dramas familiares carregados de culpa. Abandono, ressentimento e perdão são os sentimentos que irão aflorar até o final da projeção. Gongazão e Gonzaguinha, almas tão diversas, mas que se fundem na música. No final, entenderam que estavam na mesma estrada. Pena que o caminho do filho foi tão curto. (Por Luiz Vita, do Cineweb) * As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb

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