Estréia A Concepção, com Matheus Nachtergaele

No filme de José Eduardo Belmonte, o ator é um profeta do prazer em Brasília, em um cenário filmado com tanto realismo que chega a assustar

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Por Agencia Estado
Atualização:

O cenário é a Brasília contemporânea, embora várias épocas estejam representadas ali. Os personagens são filhos de diplomatas entediados que se reúnem em torno de um messias fajuto, sem nome, presente e passado, que prega o desapego a tudo e a busca do prazer extremo. Assim é A Concepção, segundo longa-metragem do diretor brasiliense José Eduardo Belmonte. O primeiro, Subterrâneos (2003), permanece inédito comercialmente. Alex (Juliano Cazarré), Lino (Milhen Cortaz) e Liz (Rosane Holland) vivem em um dos apartamentos funcionais de Brasília. Sem ter por perto os pais, que são diplomatas ou políticos, o vazio toma conta de suas vidas e a válvula de escape mais próxima é a diversão diária. Essa situação chega ao limite com o aparecimento de X (Matheus Nachtergaele), que vira o profeta da turma, pregando uma espécie de manifesto concepcionista, cujos princípios incluem o desapego a tudo - inclusive à própria identidade - e a perseguição do prazer. A eles se juntam Marcio (Murilo Grossi) e Ariane (Gabrielle Lopes). Belmonte viveu a adolescência e a transição para a vida adulta na Brasília dos anos 80. Ouviu e viu muita coisa acerca das gerações anteriores de seus irmãos. Juntou as histórias num caldeirão e depurou tudo em A Concepção. Essa mistura radical se reflete não só nos personagens, figuras que podem ser de qualquer época. Mas na forma como registra a movimentação dessas pessoas. No entanto, por trás da liberdade de movimentos da câmera, da variedade de suportes, há um rigor muito grande. O cineasta brasiliense não está atirando a esmo, embora a primeira impressão seja essa. Os seis artistas incorporam os papéis com um realismo que chega a assustar. Há cenas de sexo e consumo de drogas que deixam o espectador mais cético pensando como aquilo foi feito. Segundo Belmonte, foi o resultado de exercícios que colocaram todos na mesma freqüência. Nachtergaele, que está se tornando uma figurinha carimbada no cinema brasileiro, consegue uma interpretação única. Cortaz, outro filhote cinematográfico com pedigree, segue a mesma linha. Rosane e Gabrielle se destacam tanto pela beleza como pelas atuações. E Grossi, que é de Brasília e estava em Subterrâneos, surpreende. Há referências explícitas e outras que certamente são involuntárias. Estão lá o cinema novo, o cinema marginal, o cinema extremo, uma pitada do Martin Scorsese de Caminhos Perigosos, o Abel Ferrara de Vício Frenético. Não importa quais sejam as referências. Importa é que há vontade de ousar, testar limites.

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