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ESTREIA-'7 Dias em Havana' visita sociedade cubana com humor

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Por Redação
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Projetos cinematográficos coletivos são sempre boas oportunidades de associar visões diferentes, mas também um risco de disparidade entre suas partes. É isso o que acontece em "7 Dias em Havana", uma coprodução entre Cuba, França e Espanha que reuniu sete diretores, apenas um deles cubano, para criar histórias ambientadas em Havana. Exibido na mostra Un Certain Regard, de Cannes 2012, o filme estreia apenas no Rio de Janeiro. Com crise econômica, social e política ou não, Cuba respira vida, dinamismo, "jeitinhos", boa música, beleza e sensualidade. Assim, fica difícil entender porque tantas destas histórias optaram por clichês fáceis sobre a latinidade, do mesmo tipo que costumam atingir o Brasil em alguns filmes feitos por estrangeiros, ou seja, a velha e nada boa "macumba para turista". Dos sete segmentos, de longe o melhor é "Jam Session", assinado pelo argentino Pablo Trapero ("Abutres"), que faz bom uso do talento do diretor sérvio Emir Kusturica como ator. Ele interpreta a si mesmo numa chave bem exagerada, como o cineasta homenageado num Festival de Havana que desembarca na ilha em plena crise matrimonial. Por conta disso, bebe sem parar e dá o maior trabalho às pessoas que cuidam dele, tornando um inferno a vida de seu motorista, Alexander (Alexander Abreu). Com jogo de cintura, Alexander ajuda Kusturica a escapar de um banquete oficial, aceitando sua companhia para a jam session a que se dirige -- e que, apesar do cenário empobrecido, num fundo de quintal frequentado inclusive por galinhas, não esconde a alta qualidade da música. Alexander, aliás, é um refinado trompetista e compositor na vida real. Na história de Trapero infiltra-se um drama comum a tantos cubanos, o sonho de escapar para uma vida menos dura no exterior, e que é tema de outro episódio, "Doce-amargo", do cubano Juan Carlos Tabío ("Morango e Chocolate"). Os protagonistas são um casal, interpretado pelos veteranos Jorge Perugorría e Mirta Ibarra. Ele, aposentado, ela, psicóloga e reforçando o minguado orçamento familiar com seus doces, para cuja confecção convoca os esforços do marido. Mas sua filha mais velha, Cecilia (Melvis Estevez), já cansou de Cuba e agora prepara-se para fugir para Miami numa precária balsa. Cecilia, aliás, é a protagonista da história dirigida pelo espanhol Julio Medem, "A Tentação de Cecilia", em que a moça, uma bela e talentosa cantora de cabaré, recebe uma proposta tentadora de partir para a Europa, feita por um jovem empresário alemão (Daniel Brühl), que não esconde também sua paixão por ela. "A Fonte", do francês Laurent Cantet, acompanha o esforço insano de uma comunidade para atender a uma mãe de santo, que sonhou que teria que ser construída uma fonte no meio de sua sala, em homenagem à Virgem Maria -- como o Brasil, Cuba é pródiga no sincretismo religioso. "El Yuma", do também ator Benicio Del Toro, explora alguns dos quase sempre divertidos mal-entendidos envolvendo os cubanos e os norte-americanos, a partir da visita de um ator e futuro estudante de cinema na ilha, Teddy Atkins (Josh Hutcherson, de "Jogos Vorazes"). Em "Diário de um Principiante", o diretor palestino Elia Suleiman pratica seu habitual estilo lacônico, colocando-se no centro da história como um visitante intrigado pelos sabores e contradições locais. Enquanto aguarda ser recebido por Fidel Castro, que está, como era seu hábito quando presidente, pronunciando um longuíssimo discurso de algumas horas, visto pela TV, o cineasta encontra diversos passatempos. De todos, o pior episódio é "Ritual", em que o argentino radicado na França Gaspar Noé (de "Irreversível") dedica-se apenas a mostrar um rito de exorcismo a que uma adolescente é levada pelos pais, depois de surpreendê-la na cama com outra garota. (Por Neusa Barbosa, do Cineweb) * As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb

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