'Encantados', de Tizuka, estreia este mês no Pará e, em 2018, entra em circuito nacional

Finalizado em 2014, filme conta a história da pajé paraense Zeneida Lima; sobre José Mayer, que está no elenco, a diretora diz: 'Não tenho nada a ver com a vida pessoal dele, tenho o maior respeito com o trabalho de ator dele' 

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Por Adriana Del Ré
Atualização:

SOURE (PARÁ) - Rodado entre 2008 e 2009, e finalizado em 2014, o filme Encantados, de Tizuka Yamasaki, entra agora em uma etapa pela qual a cineasta batalhava há tempos: vai chegar ao público. A estreia ocorre no próximo dia 7 apenas em salas de cinema do Pará. O motivo? O Estado é cenário para o novo longa de Tizuka. E, em março, está previsto o lançamento nacional, com distribuição da RioFilme. Coprodução entre Globo Filmes e Scena Filmes, Encantados já rodou festivais no Brasil e no exterior – foi premiado na 38.ª Mostra de São Paulo, na categoria Festival da Juventude, em 2014, e abriu o Brazilian Film Festival of Miami, em 2016.+++ Tizuka Yamasaki faz sessão especial do novo filme, 'Encantados', em Soure, no Pará No dia 18 de novembro, houve a pré-estreia especial do filme, ao ar livre, na Praça Independência, em Soure, na Ilha do Marajó, com plateia lotada. Pouco a pouco, o público se ajeitava nas cadeiras de plástico distribuídas em fileiras na frente do telão, montado ali na tarde daquele mesmo dia. Quem não conseguiu lugar na plateia trazia a própria cadeira e se posicionava nos espaços vagos. Adultos, adolescentes, crianças. Todos estavam ali para assistir a uma história de sua terra, de uma personagem local, a pajé Zeneida Lima, hoje com 83 anos, educadora, escritora e fundadora da Instituição Caruanas do Marajó Cultura e Ecologia. +++ Filme de Tizuka Yamasaki abre a programação de festival de cinema brasileiro em Miami Na plateia, estavam ainda Tizuka e Zeneida, além de Marco Aurélio Marcondes, diretor-presidente da RioFilme, Nilcemar Nogueira, secretária municipal de Cultura do Rio, e políticos locais. Do elenco, só o ator Ângelo Antônio, que interpreta o pajé Mestre Mundico no filme – figura importante na vida de Zeneida –, conseguiu ir a Soure. Ali, Ângelo assistiu ao filme pela primeira vez. Depois da projeção, ele disse ao Estado que estava impressionado. “O filme não cai, tem uma levada o tempo inteiro. Tizuka consegue manter uma tensão o tempo inteiro”, comentou, entusiasmado, o ator (leia entrevista com ele abaixo). Zeneida estava emocionada: “Ali senti como se fosse um grito da natureza, por tudo aquilo que eu lutei a vida inteira para preservar a memória caruana”.

Cena do filme com Carolina Oliveira, como a pajé Zeneida, e Thiago Martins, como Antônio. Foto: Globo Filmes 

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Dira Paes e Thiago Martins, que também estão no longa, mandaram recado por vídeo. A agenda dos dois estava atribulada – Dira estava envolvida com um novo filme e Thiago, com as gravações da novela Pega Pega. Paraense, Dira foi representada na sessão por sua mãe, D. Florzinha, como é carinhosamente chamada. José Mayer, que faz o advogado Angelino na história, também não foi ao evento. O ator foi acusado de assédio e, por isso, sua ausência era esperada. O fato de ele estar no elenco pode prejudicar o filme? “Não, acho que o ator Zé Mayer está acima disso tudo”, responde Tizuka, que o dirigiu também na minissérie da Globo, O Pagador de Promessas (1988). “Não tenho nada a ver com a vida pessoal dele, tenho o maior respeito com o trabalho de ator dele.” +++ Tizuka planeja fazer filme sobre Santos Dumont

Percalços. Inspirado no livro de Zeneida, O Mundo Místico dos Caruanas da Ilha do Marajó, o filme conta a história de Zeneida (Carolina Oliveira), então menina, que sai de Belém, com a mãe Zezé (Letícia Sabatella), os sete irmãos e a empregada Cotinha (Dira), e vai para Ilha do Marajó, por determinação de Angelino (Mayer), pai ilegítimo dos oito filhos que teve com Zezé.  É na ilha que Zeneida passa por seu rito de passagem: seu dom de pajé, que era sufocado pela família, se aflora quando ela entra em contato direto com a natureza. É ali também que descobre o amor (proibido) por Antônio (Thiago), um encantado, como são chamados os seres da natureza (daí o título do longa). O filme traz ainda no elenco Anderson Müller, como o capataz Fortunato, além da participação especial de Laura Cardoso e Cássia Kis, como índias ancestrais. 

Foi um longo caminho para Encantados até o lançamento de agora. Enfrentou percalços como falta de dinheiro e problemas com distribuição. “Acho que tem vários motivos para o atraso do filme, mas a gente está entrando com ele no melhor momento. O Pará está bombando, a cultura paraense está bombando. Ficou uma certa conjuntura a favor”, comemora Tizuka, referindo-se ao sucesso da novela A Força do Querer, que tinha personagens – e locações – paraenses. 

"Quando apresentei o projeto pela primeira vez, eu falava da pajé Zeneida e não conseguia investimento. Quando eu coloquei a pajé lá no final do currículo dela, apareceu o primeiro investimento. O Brasil foi descoberto, os portugueses vieram aqui, vieram vários invasores, sempre se sufocou a cultura local e continua assim até hoje. Essa experiência, a gente teve no processo de realização do Encantados.”

Ângelo Antônio, como o pajé Mundico. Foto: Globo Filmes 

"Respeito demais a sabedoria dos índios’, diz Ângelo Antônio

Em entrevista ao Estado, o ator falou sobre seu personagem e o sucesso de 2 Filhos de Francisco

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Vocês filmaram há cerca de 10 anos. Como foi ver o longa agora? É legal, porque eu não sabia das cenas que ficaram. E acho que o mais importante é essa atualidade do filme com relação à questão da natureza, do que a gente está vivendo hoje – essa agressão com a natureza, de falta de compreensão de que a gente é parte dela. 

Como foi a preparação para o papel do pajé Mundico? Tenho uma relação com índios há muito tempo, sou batizado indígena. Respeito demais a sabedoria que eles têm. <MC>

Você está no ar em Malhação. Quais seus outros projetos? Teve o filme do Breno (Silveira), Entre Irmãs, fiz participação. Filme bonito, elenco está bacana. 

2 Filhos de Francisco, de Breno, ainda é forte na sua carreira? Até hoje as pessoas se lembram. Uma pessoa tremia quando veio falar comigo no metrô em Londres. Ela tinha feito a tradução do filme num país europeu.

As pessoas, então, se lembram muito de você como Francisco... Que nem o Beija-Flor (da novela ‘O Dono do Mundo’). Até hoje se lembram. 

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