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Em São Paulo, Jacqueline Bisset mostra o novo 'Bem-vindo a Nova York’

Em conversa com o 'Estado', atriz falou da carreira impressionante, da beleza e da capital paulista: "nunca achei que fosse assim"

Por Flavia Guerra
Atualização:

Uma das atrizes mais belas e talentosas de todos os tempos. A responsável por fazer do produtor Peter Guber um homem rico ao usar a camiseta molhada mais antológica da história do cinema, em No Fundo do Mar (1977). Protagonista ao lado de astros como Steve McQueen, Peter Sellers, Charlton Heston e Albert Finney.

Jacqueline Bisset em São Paulo Foto: Daniel Teixeira/Estadão

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Entres os diretores com quem trabalhou, estão mestres como François Truffaut, John Huston, George Cukor, Roman Polanski, e mais recentemente Abel Ferrara e Stephen Poliakoff. Foi este último que lhe deu o papel com quem ganharia o Globo de Ouro 2014 de melhor atriz coadjuvante, na série Dancing On The Edge. Na ocasião, ela fez um dos discursos de agradecimento mais antológicos da premiação e há meses tenta explicar o que de fato sentiu ao receber o troféu 47 anos depois de ter levado o prêmio de revelação e, no período, ter sido cinco vezes indicada. 

Com este histórico, aos 69 anos, a britânica Jacqueline Bisset pode se dar alguns luxos. Pode, por exemplo, em uma viagem ao Brasil, para ser homenageada no Festival de Paulínia e para apresentar neste domingo, 27, seu novo filme Bem-vindo a Nova York, na mostra Imovision 25 anos, ter cabeleireiro e maquiador sempre à disposição – e até posar de diva. 

Mas a Jacqueline que se revela em uma tarde de entrevista em um hotel paulistano é uma figura resoluta e versátil. Em vez do lobby ou do restaurante, preferiu ser entrevistada sentada na cama de seu quarto, porque ali “a luz era melhor”. “Sou prática. Tenho sempre uma ideia e algo à mão para resolver situações como esta”, dizia ao Estado, enquanto amarrava com um cinto uma cortina. “Assim entra mais luz. Detesto flash e luz lateral. Gosto de iluminação direta no meu rosto.” Seria esta uma preocupação com a beleza e o receio de revelar as poucas rugas? “Apenas gosto de estar sempre natural. Luz é crucial para isso”, comentou a atriz, que faz questão de cuidar ela própria de seu cabelo e maquiagem. “Aprendi a ser independente. Eu me sinto mais espontânea assim.” 

Jacqueline Bisset surpreende a quem tem dela uma imagem de mulher doce e frágil. Do alto de seus quase 70 anos e forma física impecável, ela se porta como uma diva que tem seus caprichos, mas que não se deslumbra nem perde a ternura. 

Como nunca recorreu a tratamentos de beleza radicais e nunca fez cirurgia plástica, tem sim uma ruga aqui e outra ali. Mas são exatamente os sinais do tempo que a tornam ainda mais bela e inspiradora. “Sabia que você vem arrancando elogios das brasileiras porque elas adoram ver como você está confortável com sua idade”, indaga o Estado

“Bom ouvir isso. Temos de ser o mais autênticos o possível. Não sou contra plástica. Tenho alguns amigos que fizeram. Mas, por mais discretas que as mudanças sejam, a gente percebe que fizeram algo e nem sempre fica natural”, respondeu, enquanto escovava os cabelos e retocava a maquiagem. “Porque não gosto de profissionais me maquiando? Porque me deixam com ar muito burguês. Acabo não me sentindo eu mesma.”

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Jacqueline Bisset em São Paulo Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Esta postura apolínia pode, em um primeiro momento, parecer dureza. Mas após cinco minutos de conversa o que se revela é uma mulher que aprendeu a ser direta em um ofício que é capaz de consumir a toda a energia de quem se presta a ele. “Me comportei bem durante quase toda a minha vida. Este é um trabalho difícil. Nem sempre as pessoas nos entendem”, observou ela ao ser questionada sobre sua forma de gerir a vida e sobre o polêmico agradecimento que fez ao receber o Globo de Ouro de atriz coadjuvante em Dancing on the Edge, em janeiro. “Quero agradecer aos que me deram alegria. E aos que me deram mer... Como dizia minha mãe, ‘vão para o inferno (...). Mas como minha mãe não era eu, acredito que se você quer estar bonito, você tem que perdoar todo mundo. É o melhor tratamento de beleza. Perdão para você mesmo, e para os outros”, disse ela, provocando uma avalanche de comentários pelo mundo. 

Quando relembra o momento, a sensação foi de ter vivido um pesado. “Estava completamente em choque e não consegui me expressar. Estava falando de gratidão. É preciso verbalizar isso. O que quis dizer é que a forma como pensamos muda nossa aparência. O perdão foi um ótimo tratamento de beleza para mim. É isso”, responde ela, que também cuida de sua alimentação e gosta de fazer caminhadas. “Quero caminhar pela cidade. Ontem visitei galerias de arte e quero ir à Pinacoteca”, contou a atriz, que até então só conhecia o Rio e Salvador. “Estive aqui em 1989 filmando Orquídea Selvagem. Foi ótimo. Não tanto pelo filme, mas porque comecei a procurar obras de arte e fiquei obsessiva. Voltei para casa com tantas fotos!”, relembra. “Já São Paulo é diferente do que imaginei. Nunca pensei em uma concentração de prédios assim. Penso em 25 milhões de pessoas acordando todo dia e vivendo suas vidas. É cinematográfica.”

Sobre Bem-Vindo a Nova York, longa que a trouxe ao País, e que ela apresenta ao público neste domingo, 27, às 21h30 no Reserva Cultural (Av. Paulista, 900), Jacqueline tem boas memórias. 

O filme dirigido por Abel Ferrara provocou polêmica ao retratar de forma dura a derrocada de Mr. Devereaux (Gérard Depardieu), diretor de um órgão financeiro mundial que é viciado em sexo e acaba sendo processado por assédio sexual. 

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A trama, claramente inspirada em Dominique Strauss-Kahn, ex-diretor do FMI que passou pelo mesmo processo em 2011, arrancou desde elogios por sua crueza quanto ameaças de processo e crítica ferrenha de Anne Sinclair, ex-mulher de Strauss-Kahn, que na ficção é vivida por Jacqueline. “É uma mulher apaixonada. Há muito amor nas cenas entre eles. E há humilhação também. Ele é muito viciado em sexo, E ela, em uma relação tão longa, teve de aceitar isso. É uma situação muito humana, pois quando amamos alguém temos de aceitar muitas coisas”, observa a atriz. 

As cenas em que Depardieu e Jacqueline discutem são de uma naturalidade tocante. “Abel tem uma personalidade forte. Gérard também. Tive receio de como iria lidar com os dois no começo. Mas tivemos muito espaço para improvisar, e eles foram muito carinhosos. Ambos têm seus lados poéticos. E isso é ótimo em um homem”, analisa.

Jacqueline Bisset em São Paulo Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Sobre seu colega de cena, que protagoniza cenas de sexo hiper realistas, a atriz destaca a coragem do ator em se expor. “Todos falam de como Gérard está acima do peso. De fato está. Mas ele é muito masculino e domina isso bem. É interessante como as pessoas se importam com peso hoje em dia. Como se todos fossem perfeitos. Ele foi bravo ao se expor desta forma. Ele é incansável e está sempre se superando.”

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Apesar de ser hipersexualizado, Mr. Devereaux só não faz sexo com uma única mulher em Bem Vindo. Justamente sua mulher. “É simbólico. Isso não acontece no filme, mas suponho que tenha acontecido antes deles chegarem àquela crise”, diz a atriz. 

A propósito, declarações de Jacqueline sobre a vida sexual das mulheres maduras também causaram polêmica recentemente. “Não quis ditar regra. Só quis dizer que há um medo de que a menopausa vai fazer tudo parar. Mas muitas mulheres mais velhas sentem desejo e querem sexo sim. E homens ao longo da história deixaram de se relacionar com mulheres maduras e passaram a sair com as mais novas. E isso acontece com o casal do filme. No entanto, há carinho entre eles. E apesar de tudo, talvez o amor seja isso. Saber que o outro não é perfeito e mesmo assim querer fazer funcionar. No fundo, o amor é outro vício.”

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